As contas de Sertório
O PSD, coligado ou a solo, obteve 2.074. 975. O PS isolado obteve 1.747.685 votos. Devido ao favorecimento que a lei de Hondt faculta às coligações, para eleger um deputado do PS foram necessários 20.321 votos; para eleger um da coligação foram necessários 19.392, menos 929 votos por deputado. Separados os partidos no Parlamento, como a lei impõe, os 89 deputados eleitos da bancada do PSD representam 1.725.710 votos e os deputados do PS 1.747.685, ou seja, mais 21.975 votos. Deixam de ter sentido os clamores da direita de que o PS foi derrotado. Certamente gerou menos mandatos e é isso que conta para a composição do Parlamento. Mas sendo o partido que registou mais votos,está longe de ter sentido o desamor do eleitorado.
Estes dados são duplamente importantes, para fora e para dentro. Para fora, por confirmarem o sentido de rejeição com que o eleitorado se exprimiu em relação à direita, neste caso, em relação ao PSD. Para dentro do PS, para os que se comprazem em apoucar os resultados, que todos gostaríamos fossem melhores, para que respeitem as regras internas num partido que sempre deu sinais de perfeita democracia. E àqueles que porventura se sintam tentados a alimentar a víbora da insídia, haverá sempre quem lembre a traiçoeira morte de Sertório e a imperial resposta dos romanos a sicários em busca de prémio: “Roma não paga a traidores”. Exagero, dir-me-ão! Sim, nunca houve entre nós exemplos de traição tamanha. Não, responderei, os exemplos, se é que os houve, não deixaram rastro.