António Filipe e o novo PCP
Mas não foi António Filipe, enquanto pessoa, que me levou a escrever o texto de hoje. Mesmo que houvesse muitas razões para tal, o que me trouxe aqui foi a afirmação de uma entrevista em que diz que “o PCP pode ponderar integrar o governo…”.
Em tempo prévio ao Congresso Nacional dos comunistas, que se realizará no final do ano, a entrevista é uma marca, é um sinal.
Os comunistas, na sua leitura de comando centralizado, sabem que não devem dizer nada que vá para além das teses que a Comissão Política e o Comité Central preparam. É por isso que afirmação de Filipe se revela importante, se transforma num marco decisivo para o futuro da governação.
O PCP está a dois passos de ampliar a sua leitura institucional. Já o praticava nas autarquias locais, já o assumia, com critérios próprios, no campo da concertação social.
Mesmo para os socialistas que integram o espaço mais moderado, a abertura do PCP merece um elogio. Porque consolida uma democracia mais ampla, porque concede outras oportunidades para além da atual “geringonça”.
Mas Filipe, com esta leitura tática sibilina, espetou a faca na ação política de José Manuel Pureza. O dirigente bloquista mais conciliador, no bom espírito transmontano e na boa aceitação da sua leitura sociológica, tem agora o papel de confrontar o país com a disponibilidade do BE para seguir o PCP. O Bloco tem muitos bolcos dentro. Revela as origens, as vocações e os deslumbramentos que história e protagonistas conferem. Mas, num tempo de orçamento em que os votos dos partidos mais à esquerda garantirão mais um ano de governação do PS, é relevante afirmar que à esquerda há política interessante e uma discussão prometedora que se pode fazer. Olhando para o PPD e para o CDS só nos resta um enorme bocejo.