António Costa evocou memória de “um africano por opção”
Falando na Câmara do Tarrafal, na ilha de Santiago, no encerramento da sessão solene dedicada ao antigo ministro da Coordenação Interterritorial e de Estado, que faleceu com 89 anos, o primeiro-ministro António Costa considerou que Almeida Santos foi um “africano por opção” e um opositor ao fascismo que compreendeu que a luta pela liberdade em Portugal era “gémea” do combate ao colonialismo.
Numa cerimónia que começou com um minuto de silêncio e que teve a participação do primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, António Costa definiu o presidente honorário do PS como um cidadão que “nasceu e cresceu beirão” e que se apaixonou por África na primeira visita que fez a Moçambique como membro dos Orfeonistas da Universidade de Coimbra.
“António Almeida Santos foi um africano por opção e África adotou-o. Compreendeu que a luta pela liberdade em Portugal era gémea do combate ao colonialismo”, disse o primeiro-ministro.
Já o seu homólogo cabo-verdiano, José Maria Neves, salientou o contributo de Almeida Santos para a independência e democracia em Cabo Verde.
José Maria Neves referiu-se a Almeida Santos como “um homem maiúsculo, imprescindível e que lutou toda uma vida”.
“O Tarrafal, que já simbolizou a barbárie e a perseguição, representa agora um traço de união entre os povos de Portugal e de Cabo Verde nas suas lutas pela liberdade”, acrescentou.
Só é livre quem os outros liberta
Nesta sua visita a Cabo Verde, o primeiro-ministro inaugurou ontem o Museu do Campo de Concentração do Tarrafal, proferindo um discurso em que enalteceu os lutadores pelas independências africanas e defendeu a tese de que só é livre quem os outros liberta.
António Costa fez um paralelismo entre a luta pela liberdade em Portugal durante a ditadura salazarista e o combate pela independência das antigas colónias portuguesas. “Nunca, mas nunca mais, novos tarrafais”, declarou o primeiro-ministro, numa alusão aos mais de trinta presos políticos que, entre 1936 e 1954, morreram neste campo de concentração do Estado Novo.
Perante antigos presos políticos, António Costa prestou homenagem ao líder histórico da resistência da Guiné e Cabo Verde, Amílcar Cabral cuja data da sua morte era nesse dia assinalada em feriado nacional pelos cabo-verdianos e referiu que “todos os povos têm momentos negros na sua História”.
“E uma das marcas mais negras da nossa História é, sem dúvida, o Tarrafal”, disse, antes de se referir à Guerra Colonial.
“Só é verdadeiramente livre quem os outros liberta. Não era possível restaurar a democracia em Portugal sem libertar os povos colonizados”, defendeu o chefe do Governo português, depois de, juntamente com o seu homólogo de Cabo Verde, ter deixado uma coroa de flores numa placa alusiva às vítimas do Tarrafal.
Nesta visita, quer o ministro da Cultura, João Soares, quer elementos do Executivo cabo-verdiano referiram-se ainda ao papel desempenhado pelo pai do primeiro-ministro português, Orlando Costa, antigo militante comunista, na resistência à ditadura do Estado Novo.