António Costa esteve no Chile durante dois dias, a convite do presidente chileno, Gabriel Boric, onde, para além de ter assinado a ‘Declaração de Santiago’, documento que pretende ser um alerta na defesa dos direitos humanos e dos regimes democráticos, participou oficialmente nas cerimónias dos 50 anos do golpe militar de 1973, que derrubou o Governo democrático de Salvador Allende. Uma iniciativa que decorreu, de forma simbólica, na Praça da Constituição, junto ao Palácio de La Moneda, sede do Governo, onde há cinco décadas aconteceram os momentos mais trágicos e brutais do golpe de Estado.
Falando à margem das cerimónias, o primeiro-ministro garantiu que esta deslocação ao Chile lhe trouxe “mais inspiração e motivação” para lutar pela democracia, lembrando que a ‘Declaração de Santiago’, um documento que assinou conjuntamente com o líder do executivo chileno, reflete o carácter de “compromisso internacional com o multilateralismo”.
António Costa lamentou o episódio brutal que aconteceu há 50 anos, com o golpe militar de extrema-direita que derrubou o regime democraticamente eleito de Salvador Allende, para, de seguida, elogiar a cerimónia em que participou na Praça da Constituição, um acontecimento, como salientou, “muito marcante e emocionante de afirmação da vitalidade da democracia e da vontade comum de garantirmos que todos os dias a democracia é defendida”, tendo condenado de forma veemente o recurso à violência como “solução para as disputas políticas”.
Além de Portugal e do Chile, a ‘Declaração de Santiago’ foi também subscrita pela Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, México e Uruguai, aos quais, segundo o presidente chileno, Gabriel Boric, se vão juntar em breve “muitos mais chefes de Estado e de Governo”.
Neste documento, os países subscritores, tal como também António Costa referiu, comprometem-se a “fortalecer os espaços de colaboração entre Estados através de um multilateralismo maduro e respeitoso das diferenças”, assumindo todos, como acrescentou, o objetivo comum estratégico de “desenvolvimento sustentável das nossas sociedades”.
Símbolos de liberdade
António Costa teve ainda ocasião para sinalizar a “feliz coincidência” de o cravo vermelho ser o símbolo da liberdade tanto em Portugal como no Chile, assim como também se referiu à coincidência de no passado sábado se ter comemorado em Portugal os 50 anos da primeira reunião clandestina do Movimento dos Capitães de Abril, nos arredores da cidade de Évora, insistindo na ideia de que as ditaduras “por muito que durem acabam sempre”.
Olhar para a economia
Para além da assinatura da ‘Declaração de Santiago”, da evocação da defesa dos valores da democracia e da discussão bilateral – e com representantes de empresas portuguesas presentes no país – em torno das questões de ordem económica, Portugal, segundo o primeiro-ministro, avançou ainda com a abertura de “uma pista com o Chile” capaz de potenciar a cooperação em torno da exploração do lítio, uma matéria que considerou “fundamental para a transição energética”.
António Costa lembrou, a este propósito, que juntamente com a Argentina, o Chile detém as maiores reservas mundiais de lítio, enquanto que Portugal e Espanha, na Europa, são os dois países que têm, por sua vez, as maiores reservas deste minério.
O Chile é hoje o segundo principal destino do investimento português na América Latina, que, desde 2017, por ocasião da última deslocação de António Costa a este país, mais do que duplicou, de 184 para 421 milhões de euros.