António Costa: “As pessoas não pensam o mesmo por serem marido e mulher”
O primeiro-ministro garante à TSF e ao Dinheiro Vivo que à mesa do Conselho de Ministros nunca detetou qualquer conflito de interesses. Grande entrevista para ler e ouvir este sábado.
E lá por casa, como é? “Já fiz parte de um Governo em que a minha mulher não deixou de se manifestar contra uma medida desse Governo e continuamos casados e felizes.” É já com um sorriso nos lábios que António Costa tenta rematar a polémica que tem animado a vida política das últimas semanas. Puxa do exemplo pessoal para explicar que duas pessoas da mesma família não têm que estar sempre de acordo, sobretudo quando se sentam à mesma mesa do Conselho de Ministros.
Numa grande entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo – que vai para o ar este sábado, a partir das 13h00 -, António Costa garante que não escolheu “ninguém para o Governo por ser filho, pai ou mulher de quem quer que seja” e assegura que “todos estão lá por mérito próprio e não pela sua relação familiar”.
Para o primeiro-ministro não há nenhum problema ético ou moral nas escolhas que todos os membros do Governo fizeram, tão pouco no casting que o próprio António Costa fez para o executivo: “Não há em caso algum qualquer conflito de interesses, como ao longo dos últimos quatro anos se tem verificado”, afiança, recordando que “esse problema nunca se colocou”.
Sobre os casos específicos de Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino (marido e mulher), ou de Vieira da Silva e Mariana Vieira da Silva (pai e filha), o primeiro-ministro diz nunca ter detetado “um padrão de coincidência de opiniões em função de relações familiares ou não familiares. “Às vezes estamos todos de acordo sobre um tema, outras estamos em desacordo, agora as pessoas não pensam o mesmo por serem marido e mulher.”
António Costa considera que só haveria “uma questão ética se alguém nomeasse um familiar seu” e assegura que, até agora, “não vi um único exemplo de alguém que tenha nomeado um membro da sua própria família”. Na sequência das declarações que já tinha feito esta quinta-feira, o primeiro-ministro recorda que “um gabinete não é um órgão da administração pública”, mas “um órgão de apoio à atividade política de um membro do Governo em que o critério fundamental de nomeação é a competência pessoal, política e técnica”.
A polémica que já chegou a Cavaco Silva
Os holofotes desta polémica estavam todos apontados para o Governo, até ao dia em que Marcelo Rebelo de Sousa decidiu trazer o ex-Presidente da República, Cavaco Silva, para a discussão. Marcelo começou por lembrar que foi Cavaco quem deu posse ao atual Governo e que, de 2015 até hoje, nada mudou.
Cavaco Silva não demorou muito a responder: “Por aquilo que li, não há comparação possível em relação ao Governo a que dei posse em 2015. E, segundo li também na comunicação social, parece que não há comparação em nenhum outro país democrático desenvolvido.”
António Costa passou a ter um novo adversário e, esta quinta-feira, decidiu responder com dureza precisamente ao Presidente que deu posse ao seu Governo: “O professor Cavaco tem muitas qualidades. Seguramente, a melhor qualidade dele não é a memória.” Sem abrandar no contra-ataque, o primeiro-ministro garantiu ainda, com muita ironia à mistura, que “nenhum dos membros do meu Governo sairá do Governo para formar um banco que depois vá à falência e fique a viver à custa dos contribuintes; nenhum membro do meu Governo sairá do Governo para ir gerir uma infraestrutura cuja construção ordenou; nenhum membro do meu Governo irá adquirir ativos a empresas que privatizou na legislatura imediatamente anterior. Essas é que são as relações com que se deviam preocupar.”
À TSF e ao Dinheiro Vivo, António Costa diz agora que “tal como no meu caso escolhi as pessoas do meu gabinete em função da competência pessoal, política e técnica das pessoas que trabalham comigo, presumo que os outros membros do Governo tenham tido o mesmo critério”.