Angola
Portugal tem, de há muito, um quadro estabilizado de relacionamento com a generalidade dos seus parceiros, à escala global. Com muitos deles, a presença na UE acabou por diluir nesse contexto muitas das questões que, no passado, se dirimiam exclusivamente entre as capitais. Noutros, uma sábia acomodação de interesses – ditados pela economia, pelas diásporas ou por vantagens cruzadas – conduziu a entendimentos marcados pela serenidade e pela neutralidade ideológica. O saldo geral, para a nossa diplomacia, é hoje amplamente confortável.
O quadro particular da lusofonia encerra, em si mesmo, toda a complexidade que decorre das circunstâncias pós-coloniais. Raros são os países, envolvidos em processos descolonizadores, que escaparam a esta acrimónia histórica, fruto de um excesso de intimidade passada, para onde é sempre carreado um património de memória afetiva, com leituras raramente unívocas. O percurso de estabelecimento da CPLP é, aliás, marcado por esta realidade, no caso agravado pelo facto, não presente noutras comunidades, do país em torno do qual a estrutura se estabeleceu não ser visto, face a todos os outros, como o ator tido como mais relevante à escala internacional.
Porém, mesmo tendo em conta a específica dificuldade da relação com o Brasil, o caso angolano é, nesse contexto, reconhecidamente mais complexo.
Desde a independência do país, em 1975, Lisboa e Luanda têm mantido uma relação ciclotímica, que a experiência demonstra funcionar contra o sentido em que apontam os interesses mútuos, nos planos humano e material. De ingerências despropositadas nas questões internas angolanas, por parte de meios portugueses, a uma lusofobia verbal, politicamente protegida, do lado angolano, tudo tem contribuído para alimentar um ambiente malsão, a que urge pôr cobro.
Se há que identificar um rol tarefas para a política externa portuguesa, para a década que aí vem, o tema da normalização da relação com Angola deverá nela merecer o devido destaque.