Ameaça climática é mais grave que pandemia e exige uma ação conjunta dos Estados
Em declarações à agência France Presse (AFP), a uma semana da abertura da 75ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 15 de setembro, António Guterres sublinha que a ameaça climática “é uma ameaça existencial para o planeta e para as nossas próprias vidas”, perante a qual “ou estamos unidos ou estamos perdidos”, apelando, em particular, à adoção de “verdadeiras medidas de transformação nos domínios da energia, transportes, agricultura, indústria, no nosso modo de vida”.
O líder das Nações Unidas acentuou, também, um alerta à comunidade internacional, sublinhando que a atual pandemia ilustra bem os danos provocados pela desunião.
“Acredito que o fracasso em conter a propagação do vírus [novo coronavírus], porque não houve coordenação internacional suficiente, (…) deve fazer com que os países compreendam que devem mudar de rumo”, disse António Guterres, defendendo que os Estados “devem agir juntos face à ameaça climática”, que é “muito mais grave do que a pandemia em si”.
Refira-se que, no contexto da pandemia do novo coronavírus, várias reuniões internacionais sobre questões ambientais que estavam agendadas para este ano tiveram de ser adiadas, suscitando receios de novos atrasos na luta contra as alterações climáticas.
Por exemplo, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), que pretendia relançar o Acordo de Paris, estava prevista para este ano em Glasgow, na Escócia, e foi adiada para novembro de 2021.
“Para os próximos cinco anos, esperamos coisas absolutamente terríveis em matéria de tempestades, secas e outros impactos dramáticos nas condições de vida de muitas pessoas em todo o mundo”, alertou António Guterres, sublinhando que muito depende das ações – ou inações – dos principais emissores, como a China, Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Índia e Japão.
“Este é o momento de acordar”, reforçou o secretário-geral das Nações Unidas.
Governo anuncia 1,3 ME para avaliar vulnerabilidade às alterações climáticas
Em matéria de ação climática, o Governo português anunciou, já esta semana, uma verba de 1,3 milhões de euros para avaliar a vulnerabilidade do território português às alterações climáticas, um estudo que estará concluído em 2023 e projetará cenários até 2100.
“Este estudo é fundamental para dar corpo ao desígnio maior que o país tem que é o de sermos neutros em emissões carbónicas em 2050, um projeto que implica uma significativa fatia em investimento”, disse o ministro João Pedro Matos Fernandes, durante a cerimónia de assinatura do projeto ‘Roteiro Nacional para a Adaptação 2100’, que tem como missão estimar os custos dos setores económicos para se adaptarem aos impactos esperados das alterações climáticas em 2100.
O projeto, que tem um financiamento total de 1,3 milhões de euros – 400 mil euros dos quais atribuídos pelo mecanismo financeiro EEA Grants e 900 mil euros pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) – tem como “objetivo prioritário apoiar e dar resposta a exercícios de política pública de adaptação às alterações climáticas nos vários níveis de intervenção territorial”.
As instituições envolvidas são a APA, enquanto promotora do projeto, Banco de Portugal, Direção-Geral do Território, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Instituto Português do Mar e da Atmosfera e a Direção Norueguesa de Proteção Civil.
“Um trabalho como este permite essencialmente ser capaz de definir, do ponto de vista económico e financeiro, de que investimento estamos a falar com mais detalhe, que custos é que lhes associam e muito particularmente qual é o custo da inação”, frisou o ministro.
João Pedro Matos Fernandes precisou também que as vulnerabilidades do território “são várias”, desde a seca, risco de desertificação e avanços do mar no litoral português.
“Vamos pegar todo esse conhecimento e vamos quantificá-lo”, concretizou.