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ALÍVIO E INCERTEZA

ALÍVIO E INCERTEZA

Emmanuel Macron é o novo presidente de França. Com mais de 66% dos votos, venceu as eleições, derrotou a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, mas não conseguiu mobilizar a maior parte dos franceses. Muitos deles, demasiados, não se deram sequer ao trabalho de ir votar. Não por acaso, a taxa de abstenção foi das mais elevadas de sempre. Outros votaram branco ou nulo. E 34% (11 milhões!) votaram na extrema-direita.

Opinião de:

ALÍVIO E INCERTEZA

Como refere o Libération, em editorial intitulado «Uma dívida para com o povo», os eleitores de Macron “deram-lhe um empréstimo”, já que mais de dois terços dos eleitores que o elegeram teriam preferido votar por outro. Unir uma França dividida, em que quase metade dos eleitores que se exprimiram na primeira volta apoiou projetos antieuropeístas, populistas e extremistas, não vai ser tarefa fácil. “Juntar todos”, os descontentes com a Europa, os descrentes nos partidos tradicionais, os que se deixaram seduzir pelo discurso populista e irresponsável de quem não tem soluções para a complexidade dos problemas que os franceses têm pela frente, os desiludidos com o statu quo, os que receando o terrorismo olham o imigrante com desconfiança, os que têm medo e os que olham com confiança o futuro, acreditam na capacidade dos franceses e se identificam com o projeto europeu, deve ser a prioridade do novo presidente, que promete servir os franceses “com humildade, dedicação e determinação” e se comprometeu também a lutar contra o aquecimento global e o terrorismo e “reforçar os laços à Europa”. 

A juventude de Macron joga a seu favor, mas facilmente se pode converter em desvantagem. Ele é o presidente mais jovem da V República e um dos mais novos do mundo.  Mais novo que Giscard d’Estaing, presidente aos 48 anos. E até que Bonaparte, imperador aos 40, mas isso foi em 1848. Pode surpreender e afirmar-se como Kennedy ou Trudeau. E pode desiludir como outros jovens e promissores governantes que me dispenso de enumerar. Há muitas interrogações à espera de resposta. Vai Macron conseguir formar um governo em que os franceses se revejam e granjear o apoio dos senadores da República? Que novas ideias e soluções para os novos e velhos problemas? 

Respiramos de alívio com a derrota da extrema-direita, mas não ficamos tranquilos. O horizonte francês continua nublado. Se o partido En Marche! vencer as legislativas, Macron pode reforçar as condições de governabilidade. Mas também pode contribuir para que o partido de Marine Le Pen venha a ser a “primeira força de oposição”, proporcionando-lhe um indesejável palco de expressão e ação com desmedida visibilidade. Um grande risco, não apenas para a França. Tanto mais que o futuro da União Europeia continua incerto. E no resto do mundo não há amanhãs que cantem. 

Churchill afirmou um dia que “quanto mais para trás se olhar, melhor se vê para a frente”. É um bom conselho para o novo presidente da França e para os decisores europeus. Olhar para trás, para a história, e retirar ensinamentos para melhor decidir no presente e preparar o futuro. E também ajuda olhar para os lados, para o que se passa noutros países, dentro e fora da Europa. Se os democratas e os europeístas não cuidarem da qualidade da democracia e da revitalização da vida política e das instituições europeias, indo ao encontro das necessidades e expetativas das pessoas, não se poderão queixar da sementeira e maus frutos dos movimentos populistas, extremistas e xenófobos.