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Álibi

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Maria Luís Albuquerque já arranjou álibi e bode expiatório para o caso do BANIF. Não um álibi mas dois. O primeiro foi a recusa da Comissão Europeia em aceitar as sucessivas seis propostas. O segundo foi a fuga de 900 milhões de depósitos, quando o futuro do banco foi posto em causa por um canal de TV.

Opinião de:

Álibi

Esqueceu toda a inércia e bloqueio informativo, o véu e a cortina de silêncio sobre o tema durante a campanha eleitoral e só parcialmente levantado após a segunda reunião de Passos com o PS. Até então havia apenas coisas vagas, sem qualquer alerta do Governo, estava-se em campanha, convinha esconder tudo o que tirasse votos, ou desmanchasse o ramalhete tão bem composto com que a PAF se apresentou a sufrágio. Apenas rumores, p. ex. o rumor de uma discussão mal terminada entre Maria Luís e Carlos Costa, sem que algo de substantivo tivesse transpirado. A PAF sabia bem jogar às escondidas, dissimulando a crueza da verdade. Vamos a perguntas indispensáveis: Seis recusas da Comissão sobre possíveis modelos de alienação não aconselhariam a negociar a sério com a Comissão? Quem se manteve nas covas? O Banco, o Regulador, ou o Governo? Ou todos, à espera de um milagre? Quem passou a informação sobre o desastre iminente para o canal de TV? Geração espontânea? A quem interessava criar embaraços logo de entrada ao novo Governo? Depois de nós, o dilúvio! Quem se esqueceu de que as regras da resolução bancária seriam piores a partir de 2016? 

A defesa do anterior governo está agora a cargo do seu jornal digital: O que se passou atrás não conta, o que conta é a fuga de 900 milhões de depósitos em poucos dias. Táctica velha: não se culpa a geração da crise, culpa-se a crise, depois de gerada. Depois de dias de silêncio absurdo, Maria Luís, face de estanho, vem doutamente opinar: que tem dúvidas sobre a bondade da solução; que não pode ir mais longe por já não ter acesso a informação. E quando a tinha, nada fez para prevenir mais um roubo aos contribuintes. E olimpicamente declara que sim, temos um problema de regulação na banca. O bode expiatório. Ou em português direito: que a culpa é de Carlos Costa, nunca da PAF, do Governo e menos ainda da então Ministra das Finanças. 

Dificilmente se aceita tanta torpeza. Por muito que nos custe, e desagrade à direita, teremos que cavar até às fundações do desastre. Não para punir, mas para descobrir como e onde se plantou a pólvora e o rastilho. Se outros motivos não houver, ao menos que a descoberta da verdade seja redentora. Não me resigno a ter que regatear 900 milhões para construir o Hospital de Todos os Santos e a ter que perder o dobro ou o triplo, a salvar os destroços de uma barca que já dificilmente flutuava.