Agora, a política
Ora, porque é que esta situação é complexa? Por três razões fundamentais.
Primeiro, porque o eleitorado rejeitou claramente o programa da coligação de direita – a qual perdeu 750 mil votos em relação a 2011, e teve um dos seus piores resultados eleitorais de sempre; mas não concedeu a vitória ao Partido Socialista, que não terá o maior grupo parlamentar. Assim, o bom critério democrático atribui ao líder do PSD, enquanto partido com maior representação parlamentar, o encargo de tentar formar governo. Veremos se consegue. Parece-me condição indispensável para o conseguir renunciar ao essencial do seu programa político, no que toca a mais cortes nos rendimentos, a mais desequilíbrios nas relações laborais e à continuação do desmantelamento de serviços públicos.
A segunda razão da complexidade é a situação económica e financeira do país. A qual é muito difícil, pesem embora todas as tentativas (aparentemente bem sucedidas) de disfarçá-la durante a campanha eleitoral. A consolidação orçamental está por fazer, a ameaça de mais um buraco nas contas, provocado pelo processo do Novo Banco, é real, a dívida está mais alta do que nunca e os indicadores económicos são ainda extremamente frágeis.
Finalmente, o atual ciclo de decisões político-eleitorais só termina com a eleição presidencial. E o facto de nenhum dos candidatos que fariam o pleno do apoio socialista ter querido concorrer colocou e coloca dificuldades adicionais ao PS e ao seu eleitorado.
A complexidade exige responsabilidade, inteligência política e determinação. E é isto que tenho a certeza de que todos os socialistas vão evidenciar. Não esquecendo a derrota, nem a disfarçando, nem se recusando a compreender porque ocorreu. Mas também tendo presente, como é seu timbre, que primeiro está o país. Porque o ponto principal é este: desde domingo passado, o PS é o árbitro da situação política portuguesa.