Acordo sobre plano de recuperação é “oportunidade única” para a Europa
Nesta entrevista ao periódico catalão, o primeiro-ministro, depois de admitir o apoio de Portugal à candidatura da ministra da Economia de Espanha, Nadia Calvino, para suceder a Mário Centeno na presidência do Eurogrupo, defendendo que “seria muito importante” que esse posto se “mantivesse na família socialista”, lembrou os poucos dias que faltam para que os dois países ibéricos reabram as suas fronteiras terrestres, o que sucederá, como salientou, já na próxima quarta-feira, dia 1 de julho, numa cerimónia que será simbolicamente assinalada na fronteira entre Elvas e Badajoz e que contará com as presenças do Presidente da República de Portugal, do rei de Espanha e dos primeiros-ministros português e espanhol.
Sobre as consequências económicas e financeiras trazidas pela pandemia de Covid-19, designadamente para a União Europeia, o chefe do Executivo português fez questão de alertar para as previsões que vão sendo publicadas pelos diversos organismos nacionais e internacionais, referindo que todos os estudos apontam para uma conjuntura manifestamente “pior, para todos os países”, do que há umas semanas, instando os governos europeus a se prepararem para enfrentar cenários “mais duros”, mostrando-se convicto de que “nem num mês, nem em um ano”, as economias europeias deverão voltar aos índices de desenvolvimento que registavam em fevereiro de 2020. Um desiderato que, para António Costa, levará pelo menos dois anos, até que as economias dos estados-membros da União Europeia voltem a recuperar para níveis semelhantes aos registados quando a Covid-19 apareceu.
Quanto à proposta da Comissão Europeia de criação de um fundo de recuperação económica, o primeiro-ministro voltou a considerar a medida como uma “oportunidade única” para que a União Europeia possa enfrentar e ultrapassar com êxito a crise económica e social trazida pela pandemia, afirmando não ter dúvidas de que esta proposta será aprovada no primeiro Conselho Europeu sob a presidência da Alemanha. Lembrando que tanto as empresas, como os trabalhadores ou as famílias europeias “precisam de respostas”, António Costa aludiu que há momentos em que os “políticos não têm outra opção do que fazer aquilo que é necessário”, ou seja, como acrescentou, “não perder tempo”, porque a crise “exige uma resposta urgente para todos”.
É com este quadro em pano de fundo que o primeiro-ministro português refere, nesta entrevista, que adiar ou não avançar desde já com a proposta da Comissão Europeia, significaria um enorme retrocesso na construção e na consolidação do projeto europeu, lembrando que mesmo que a proposta seja aprovada “como se deseja”, no Conselho Europeu no próximo mês de julho, o programa já não conseguirá entrar em vigor em janeiro de 2021, “numa altura em que a crise já se estenderá por quase um ano”.
Já em relação ao facto de Portugal registar uma menor taxa de mortalidade de Covid-19 do que Espanha, Itália ou Reino Unido, entre outros, o primeiro-ministro recomenda “prudência” na leitura das várias realidades nacionais. Rejeitando a ideia de poder haver uma segunda onda da pandemia em Lisboa, referiu, a este propósito, que o foco da doença não está “na cidade de Lisboa”, mas “nalguns bairros de municípios vizinhos”, e que mesmo aqui, nestas 19 freguesias, como garantiu, não se têm registado agravamentos no número de pessoas infetadas.
O primeiro-ministro foi ainda confrontado com o anúncio da realização em agosto da fase final da Liga dos Campeões de futebol, voltando a referir que “não existe nenhuma relação do atual surto da pandemia com o centro da cidade de Lisboa”, onde terá lugar a competição.
Ligações ferroviárias ibéricas exigem “visão global”
Na entrevista, António Costa abordou ainda a questão das ligações ferroviárias entre os dois países ibéricos, garantindo que ambos os governos têm vindo a trocar opiniões sobre este assunto e que “vai continuar a ser objeto de reflexão”.
Neste sentido, voltou a sustentar que Portugal e Espanha têm de pensar nas “conexões das cidades portuguesas com a rede ibérica de alta velocidade” e não apenas em privilegiar a ligação entre as duas capitais, Lisboa/Madrid, o que deve ser feito, “sem nunca abandonar uma visão global da Península Ibérica”.