A tragédia de Pedrógão Grande
Acrescem a este balanço, danos patrimoniais de vulto: Mais de 25.000 ha de floresta ardidos, mais de 150 habitações atingidas pelo fogo, cerca de 40 empresas que ficaram total ou parcialmente destruídas e 300 postos de trabalho directamente ameaçados, para além de centenas de equipamentos, de máquinas agrícolas e florestais destruídas e 650 Km de rede viária afetados.
A dimensão do que aconteceu e o respeito pelas vítimas não admitem abordagens oportunistas ou aproveitamentos de natureza política, que seriam totalmente ilegítimos e inaceitáveis.
Analisando apenas os factos conhecidos e confirmados e as análises técnicas já disponíveis, podemos afirmar que as consequências catastróficas deste incêndio são a evidência de que o que se passou em Pedrógão Grande e, particularmente, na EN 236-1, não foi uma ocorrência comum em Portugal, mesmo tendo em conta a nossa posição geográfica quase mediterrânica e o perfil climático e meteorológico do país.
Em condições normais, este teria sido mais um dos muitos incêndios que deflagram todos os anos naquela zona, sobretudo neste período do ano, habitualmente o mais crítico.
Infelizmente, desta vez, a realidade não foi a do costume.
Fruto destas circunstâncias, absolutamente excecionais, muitas infraestruturas de comunicações e energia colapsaram com o fogo e um número significativo de pessoas que vivem mais isoladas, ficou rapidamente cercada pelas chamas.
Se juntarmos a tudo isto uma estrutura de povoamento humano bastante dispersa, uma floresta em grande parte abandonada e cuja organização vem dos anos 40 do Século XX, estavam reunidos os elementos necessários para gerar esta “tempestade perfeita”, com as consequências conhecidas.
Estamos a falar de uma ocorrência que em menos de 3 horas gerou um incêndio que atingiu 3 concelhos e 4 frentes ativas, as quais chegaram a mobilizar, no seu momento mais alto, mais de 1000 operacionais, 400 viaturas e 16 meios aéreos.
Atendendo a que, nesse dia, lavravam no país cerca de 150 incêndios, só por ignorância ou má-fé se pode falar em falha de mobilização de meios.
Tratou-se, sem margem para dúvidas, de um dos mais complexos cenários de fogo que alguma vez ocorreu em Portugal. Um verdadeiro caso de estudo!
Saudamos, por isso, o consenso obtido nesta Assembleia, que entendeu avançar com a criação de uma comissão técnica, independente, constituída por especialistas de reconhecido mérito, sem prejuízo das investigações determinadas pelo governo e pelo Ministério Público e dos relatórios técnicos dos diferentes serviços.
Deixemos, pois, o apuramento dos factos seguir o seu caminho e aguardemos, com a serenidade devida, pelas investigações e relatórios em curso para, na altura certa, nos debruçarmos de forma rigorosa sobre as respetivas conclusões.
Nessa altura, estaremos com toda a certeza em condições de perceber o que se passou e daí retirar as devidas ilações para o futuro.
Até lá, e à semelhança do Governo e do Primeiro-ministro, concentremo-nos naquilo que podemos e devemos fazer para reduzir o sofrimento e garantir a assistência necessária às populações atingidas pois esse é, sem dúvida, o melhor apoio que lhes podemos e devemos dar nesta altura.
Este é o tempo de agir em apoio daqueles territórios e das suas populações.