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A previsibilidade de Passos Coelho

A previsibilidade de Passos Coelho

Opinião de:

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A “questão grega” ocupou, naturalmente, a agenda política e mediática dos últimos dias. E vai continuar a ocupar durante as próximas semanas. O “acordo” do último fim-de-semana não resolveu o essencial. Apenas evitou a imediata saída da Grécia da Zona Euro proposta abertamente pelo ministro das Finanças alemão, o inqualificável senhor Schäuble, de quem a dupla Passos Coelho e Cavaco Silva são incondicionais seguidores. Um e outro empenharam-se notoriamente na defesa da posição alemã, tanto por convicções ideológicas, como por comezinhas razões eleitorais, sem olhar às consequências para Portugal que a saída imediata da Grécia iria provocar. Como diria Mário Cesariny: “Chegámos ao extremo-limite do perigo”.

Mas, tão escandaloso como a subserviência em relação à posição alemã, foi a falta de pudor e de coluna vertebral após a conclusão do “acordo”. Num estilo que o carateriza, Passos Coelho, em bicos dos pés, disse que uma sugestão sua tinha “desbloqueado” o dito acordo. Cavaco Silva, que dias antes tinha dito “são 19, sai um, ficam 18”, veio a público dizer que sempre tinha acreditado que a Grécia não sairia do Euro. Um e outro queriam a imediata saída da Grécia do Euro, tal como Schäuble. Com estas declarações tardias quiseram “retocar a fotografia” e limpar as mãos à parede.

Este “retoque de fotografia” é uma constante em Passos Coelho (o que leva a que grande parte dos portugueses o tome por mentiroso, segundo sondagens recentes). Na entrevista televisiva da semana passada, sem o menor pejo, reescreve o que se passou nos últimos 4 anos. Disse, por exemplo, entre muitas outras aldrabices – é o termo certo – que desconhecia “os números” do memorando assinado com a troika, em 2011 (como o se o PSD, com a caneta de Catroga, não o tivesse assinado), o que o levou a ir “além das medidas da troika”. Mas, de entre todas, a que mais revela que este Passos Coelho é o mesmo da campanha eleitoral de 2011 (ele próprio disse: “eu sou previsível”) foi quando respondeu à questão do corte nas pensões de reforma: “Não estamos à espera disso” – disse. É, rigorosamente, a mesma resposta que deu a uma estudante, em Abril de 2011, quando questionado se iria cortar os subsídios de férias: “ Nunca ouvi falar nisso no PSD. É um disparate”. Em As Benevolentes, Jonathan Littell escreveu: “Apesar do matraquear da propaganda de Goebbels, as pessoas continuam a ser capazes de formar as suas opiniões”. Acredito que assim é.