A mentira como arma política
A memória pública tem sido avivada com uma peça de vídeo onde se comparam promessas de Passos Coelho, antes de ocupar o poder, com decisões posteriores. Já conhecíamos as diferenças, só que agora as redes sociais entram pelos nossos computadores com a evidência esquecida. A comprovação da duplicidade de posições, não permite usar a palavra mentira, pois há sempre a velha desculpa do contexto. Mas ela tem acicatado o sentimento malsão do ódio político. Apesar da erupção, a calma tenderia a regressar não fora nova e mais frontal provocação. Passos Coelho na semana passada afirmou várias enormidades: que a emigração dos nossos era inferior à dos Espanhóis e Irlandeses; que nunca havia aumentado o IVA; que o emprego estava a aumentar; que (até declarações recentes do ministro) nunca tinha mexido nos subsídios sociais. Mais valia ter estado calado.
Ora, como não é hoje difícil compulsar dados de organizações internacionais, logo uma dirigente de partido da oposição veio escarrapachar a conflituante verdade: sem sombra de dúvida mentia e demonstrou-o com estatísticas internacionais. Mas bastaria ver os números nacionais. Já sabíamos que entre 2011 e 2013 tinham saído do País cerca de 350 mil pessoas. Há dias ficámos a saber que a tendência se mantém, pois mais de 130 mil saíram em 2014; ao todo, 480 mil em quatro anos de governo desta coligação. Quanto ao aumento do IVA, desmontar a mentira é fácil, basta olhar às mudanças de escalão da energia e da restauração, agora ambas a 23%, retirando recursos a centenas de milhares de famílias frágeis e projetando na falência pequenos restaurantes e no desemprego, marido, mulher e empregado que neles trabalhavam. Dizer que não existe criação de emprego será certamente uma falta à verdade, não admira a ténue recuperação quando se perderam 450 mil postos de trabalho; mas os desempregados hoje ainda são 54 mil mais numerosos que em 2011, os desencorajados subiram mais 110 mil e os ocupados em programas ditos ativos de emprego são mais 134 mil. Quanto aos subsídios sociais a história é bem mais negra, dado os destinatários se encontrarem no fundo do poço do elevador social: em relação a 2011, o subsídio de desemprego cessou para mais 147 mil desempregados, os beneficiários do abono de família são agora menos 72 mil, os beneficiários do complemento solidário para idosos são hoje menos 68 mil e os de rendimento social de inserção menos 111 mil. Com estas provocações não admira que o debate político descambe.