A história não espera
Fiquei honrado pelo convite para dirigir por um dia o jornal de um partido que não é o meu. Como é sabido, sou fundador e orgulhoso membro do LIVRE, um partido que se preza de na sua história recente ter dado tudo para derrubar as barreiras que se erguiam entre as esquerdas portuguesas. Fizemo-lo a 5 de outubro de 2014, quando recebemos no nosso Congresso o então candidato do PS a primeiro-ministro, António Costa, e ali debatemos como o conceito de um “arco da governação” limitado ao centro-esquerda e à direita estava obsoleto — exatamente um ano antes de ele se tornar efetivamente obsoleto. E hoje o espírito de diálogo entre as esquerdas já não se encara com naturalidade — encara-se com espírito de missão e vontade de mudança.
Esse mesma vontade de mudança encontra-se aqui nos argumentos e nas ideias de Ana Catarina Mendes e Mariana Mortágua, secretária-geral do Partido Socialista e deputada do Bloco de Esquerda, nas leituras que fazem dos primeiros meses de convergência governativa à esquerda em Portugal e das lições que a experiência portuguesa pode ter no quadro europeu. Vontade de mudança na Europa é o que temos na entrevista exclusiva de Yanis Varoufakis, ex-ministro das finanças da Grécia e fundador do DiEM25, sobre a necessidade de criar um movimento pan-europeu que faça a “revolução política” da democratização plena da UE. Vontade de mudança é o que encontramos nas palavras de Ska Keller, líder dos Verdes Europeus, e na sua luta por uma política humana da UE em solidariedade com os refugiados.
Várias esquerdas, várias sensibilidades e opiniões, uma mesma vontade de mais democracia, mais justiça social e mais solidariedade. Do meu lado livre (e não só do LIVRE) tenho orgulho em chamar “camaradas” a todos aqueles que estão do lado da esquerda e das causas de progresso. É assim que desejo aos meus camaradas socialistas boas leituras e frutuosos diálogos.