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A extrema-direita europeia e Donald Trump

A extrema-direita europeia e Donald Trump

A identidade e a soberania das nações são valores políticos, semióticos. A identidade e a soberania das pessoas são valores humanos.

Opinião de:

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A Europa do holandês Geert Wilders do Partido da Liberdade, que incita ao ódio racial a ponto de já ter tido que prestar contas na justiça por isso, de Nigel Farage, ex-lider do UKIP e fervoroso apoiante de Donald Trump, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, de Filip Dewinter, da extrema direita belga que fala contra a “islamização da europa”, de Norbert Hofer do Partido da Liberdade austríaco, de Matteo Salvini, o italiano que substitui Berlusconi em Itália e que elogia publicamente o “bom trabalho” de Benito Mussolini, ou de Marine Le Pen em França (que perto dos anteriores parece uma moderada) – apenas para referir os mais mediáticos, encontrou nos Estados Unidos da América, na corrente disputa eleitoral para a presidência da União, o seu correspondente ideológico: Donald Trump. 

Líderes da extrema direita da Rússia, República Checa, Sérvia, Eslovénia, Suécia e Grécia também já manifestaram o seu apoio a Trump. O Aurora Dourada da Grécia até fez um vídeo-clip com neonazis em apoio à campanha de Trump, que não chegou a ser divulgado (alguém na campanha de “Donald” ainda mantém um resquício de bom senso). 

Com Donald Trump, de ambos os lados do Atlântico crescem sinais de intolerância, de fanatismo, de radicalismo. O discurso politico usado é extremamente populista porque é a linguagem dos incultos. É a linguagem mais básica, que apela aos sentimentos mais primários do homem comum.

Os nacionalismos exacerbados mais não são do que a afirmação de egoísmos atávicos que nos retrocedem a tempos anteriores à constituição das atuais instituições supranacionais, conquistas que demoraram vinte séculos da era moderna a conseguir implementar. Estes sinais de radicalismos nacionalistas no ocidente são tentativas de recuo da civilização comunitária – leia-se comunidade de povos – a fases involutivas dos processos de coesão e inter-relações que nos conduziram à atual civilização global. Entre defeitos e virtudes, num mundo globalizado há, pelo menos, mais chances para a solidariedade e para a corresponsabilidade entre os povos. 

Mas a direita radical está em marcha na Europa, alimenta-se da crise financeira, da crise económica, do terrorismo e da enorme vaga de refugiados que pressiona países charneira no mediterrâneo e países economicamente mais atraentes para a imigração. 

Mesmo que com inúmeras diferenças na sua matriz  – a extrema-direita europeia radica no anti-semitismo, no nazismo pós-mortem e, apesar de tudo, na conceptualização intelectual dum modelo político – os benefícios para estes movimentos na eleição de Donald Trump seriam inegáveis. 

Julgo que Trump será derrotado. Mas outra oportunidade acabará por surgir à direita. 

Resta saber que conseguiremos fazer valer a importância de sobrepormos os valores humanos a tudo o resto. Porque, afinal, é só o que conta no fim…