A Europa que queremos exige um combate pela confiança e contra o medo
Para o primeiro-ministro e líder do PS, que intervinha na conferência ‘Bem Estar para Todos numa Europa Sustentável’, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, por mais rico e desenvolvido que um país europeu possa ser só muito dificilmente conseguirá alcançar melhores condições de vida “fora da União Europeia”, tese que o levou de seguida a pedir ao eleitorado europeu que aproveite o período da próxima campanha eleitoral das europeias para empreender um “combate pela confiança e contra o medo”.
Reconhecendo que o caminho para uma Europa mais equitativa, justa e equilibrada continua a exigir da parte dos europeus um trabalho árduo e muito exigente, o líder do PS defendeu, contudo, que os problemas e dificuldades só muito dificilmente poderão ser mais bem resolvidos “fora da União Europeia ou sem a União Europeia”.
António Costa referia-se, sobretudo, àqueles que “venderam o Brexit” como uma forma fácil e sem dor do Reino Unido recuperar uma dimensão global e que hoje, volvidos três anos, e ao contrário das promessas que fizeram, os cidadãos britânicos contatam a frustração em que se encontram, também por verificarem que está a ser mais fácil aos 27 Estados-membros construir uma posição negocial comum, em contraponto com o que se passa no seu próprio país.
O líder socialista português referiu-se ainda à questão decisiva da fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, território que integra o Reino Unido, lembrando que a “solidariedade europeia ficou do lado da Irlanda contra o Reino Unido”, remetendo, a este propósito, para o que antes já tinha alertado que nem um enorme país, “uma grande potência militar e um antigo império” como o Reino Unido consegue sozinho “ter mais força isoladamente do que qualquer um dos Estados membros no seio da União Europeia”.
Uma realidade que, para António Costa, é uma verdade indiscutível também nas relações económicas com os outros blocos, caso dos Estados Unidos da América ou da China, ou no combate ao terrorismo.
Expondo a sua convicção de que nenhum dos verdadeiros problemas que angustiam os cidadãos europeus “estará em melhores condições de serem resolvidos fora ou sem a União Europeia”, o Secretário-geral do PS apelou a que se dê prioridade, nesta fase em que se aproxima o período de campanha eleitoral para as europeias, a “combater os medos e as angústias” dos cidadãos europeus, garantindo que é o medo que está a “alimentar o populismo, enquanto a confiança é o que reforça a democracia”.
Crescimento, emprego e sustentabilidade
Antes da intervenção de António Costa, tinha já sido apresentado, nesta sessão dos socialistas e democratas europeus, o relatório da Comissão Independente para uma Igualdade Sustentável, que mereceu da parte do líder do PS rasgados elogios, lembrando que se trata de um documento que “retoma os pilares das teses sobre o contrato social que os socialistas europeus sempre defenderam” e que incluem, designadamente, medidas como a aposta no crescimento económico e no emprego, mas também na “sustentabilidade e na inovação”.
Um conjunto de medidas e de iniciativas que considerou serem muito positivas para inverter a lógica que tem vindo a ser seguida, um pouco por toda a Europa, de menosprezo e alheamento pela classe média, sustentando que “não há democracia sem uma classe média”, sendo que, na sua perspetiva, o desafio dos socialistas e trabalhistas europeus é provar à classe média que “continuam a pertencer à nossa família política”.
Retomar a dimensão social do projeto europeu
Nesta sessão, que reuniu em Lisboa os socialistas europeus, participou também o cabeça de lista do PS às europeias, Pedro Marques, que abordou igualmente a questão do ‘Brexit’, considerando ser muito importante perceber as razões que levaram os cidadãos britânicos a escolherem sair da União Europeia.
Para Pedro Marques, contudo, uma das causas para que este fenómeno tivesse sucedido tem a ver com o facto de se terem abandonado “algures” durante a construção europeia, “aspetos importantes da dimensão social”, designadamente, como referiu, “em relação às principais preocupações da classe média”, considerando ter sido esta uma das causas próximas que está na origem de se constatar hoje na Europa o crescimento “fértil dos extremismos e dos nacionalismos”.
Pedro Marques referiu ainda que o exemplo do Governo socialista em Portugal demonstrou à Europa que afinal havia uma alternativa à política de austeridade e que era possível “conciliar a recuperação de rendimentos com o crescimento económico, criação de emprego e contas certas”, garantindo que são estas políticas que “implantámos em Portugal e que queremos levar e defender para a Europa”.
Também a número dois na lista do PS às europeias, Maria Manuel Leitão Marques, interveio neste encontro para defender a criação de um orçamento participativo a nível europeu, a exemplo do que tinha já dinamizado ao nível do Orçamento do Estado, como forma de recuperar, como assinalou, a confiança dos cidadãos, sendo esta, para a dirigente socialista, uma forma clara de tornar “sustentável e inclusiva” a construção do projeto europeu.