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A esquerda tem toda a legitimidade para formar Governo

A esquerda tem toda a legitimidade para formar Governo

Concordando com Cavaco Silva, quando avisou que não daria posse a um Governo que não dispusesse de uma maioria estável e confortável, o deputado João Soares, em entrevista ao jornal OJE, lembra a sua experiência autárquica em Lisboa em coligação com os comunistas, garantindo que o PCP “quando firma um acordo cumpre-o”.

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A esquerda tem toda a legitimidade para formar Governo

Subscrevendo a tese por muitos defendida de que os resultados das legislativas vieram introduzir “fatores de complexidade” na vida política portuguesa com os quais o país nunca tinha sido confortado nos 40 anos de democracia, João Soares é contudo perentório ao defender que os novos factos devem ser interpretados como “uma oportunidade” para que pela primeira vez exista em Portugal um Governo de maioria de esquerda.

Considerando que depois de 25 de novembro de 1975 e da viragem que se deu com a aprovação da Constituição em1976, o PCP, também com a queda do muro de Berlim em 1989 e com o fim do império soviético no Leste da Europa, deixou de ser “uma ameaça totalitária” para a democracia portuguesa, criticando aqueles que insistem em retirar valor aos votos que são obtidos pelo PCP ou pelo BE.

Salientando a sua condição de socialista e a sua experiência de doze anos na liderança da CML dirigindo uma coligação com o PCP e outros partidos de esquerda, João Soares, depois de acentuar não ter “nenhuma espécie de afinidades ideológicas com o comunismo”, diz, por experiência própria, que com o PCP, quando se chega a um acordo, “eles respeitam os compromissos que assumem”.

Transpondo a sua análise para os dias de hoje, e perante o novo quadro parlamentar criado pelas eleições legislativas de 4 de outubro, o dirigente socialista diz esperar que António Costa, enquanto líder do Partido Socialista, consiga encontrar um compromisso para um mandato de quatro anos com os partidos à esquerda, garantindo não ter dúvidas de que se esse acordo conhecer a luz do dia, “ele vai funcionar e funcionar bem”.

João Soares lembra depois o que tem vindo a defender nos órgãos próprios do PS, designadamente na Comissão Política de que é membro, de que o país “precisa de uma política de esquerda”, refutando os argumentos repetidos à exaustão pela direita de que Portugal “viveu acima das suas possibilidades e que a culpa foi das políticas despesistas dos socialistas”.

Para o dirigente socialista estas acusações não passam de comprovadas atoardas que a realidade vem desmentindo todos os dias, apontando culpas à banca e ao sistema financeiro pelo “desequilíbrio” que provocaram nas contas públicas e pelas dificuldades financeiras que trouxeram à vida dos portugueses, acusando-os de serem os principais responsáveis por terem obrigado Portugal a recorrer à ajuda externa.

João Soares diz não subscrever a tese, sustentada pela direita e pelos muitos comentadores que enxameiam as televisões diariamente, de que o PS e os partidos à sua esquerda não têm legitimidade para formar Governo porque não se apresentaram aos eleitores como uma coligação.

Lembra a este propósito que, em 2011, PSD e CDS também se apresentaram separados às eleições e que, depois de as ganharem, “coligaram-se e formaram Governo”.

Trata-se, agora, para o dirigente socialista, de um fenómeno da mesma natureza, pelo que também aqui “não há nenhum problema nem de legitimidade constitucional nem tão pouco de legitimidade política”.

O PS não é suicidário

Quanto a entendimentos com a coligação de direita, João Soares rejeita-os liminarmente, “a menos que o PS tenha uma tentação suicidária”, defendendo que quem foi oposição durante quatro anos é que se deve entender.

O grande problema dos dirigentes da direita, sobretudo os que estiveram nestes últimos quatro anos no poder em Portugal, “vê-se-lhes nos olhos”, é acharem que a esquerda não tem direito ou legitimidade para governar, acusando João Soares PSD e CDS de terem um “preconceito aristocrático” porque pensam que “nasceram para exercer o poder” e que os partidos da esquerda, “que fazem parte da plebe”, não têm esse direito.