A direita não destruirá o que a esquerda quer construir
Carlos César acusou a anterior maioria de estar a levar demasiado tempo para compreender o que se passou com os resultados eleitorais de 4 de outubro, criticando-a por insistir num “revanchismo pós-eleitoral” ao querer que a nova maioria prosseguisse a mesma política.
Reprovou que PSD e CDS insistam na tese surrealista de que, mesmo tendo perdido a maioria parlamentar, continuem a defender que a nova maioria, em nome de um interesse público que só a direita compreende e defende, teria a obrigação de continuar com as suas políticas, o que, como salientou o líder da bancada socialista, “só podia ter apoio da parte dos seus correligionários”.
Para o também presidente do PS, a patologia de que enferma a oposição de direita é de difícil diagnóstico. Por um lado, mostram uma enorme dificuldade em compreender o que lhes aconteceu nas últimas eleições legislativas e, por outro lado, acham que quem passou a governar não devia fazer mais do que o anterior Governo fez, “nem mais, nem menos, nem sobretudo diferente”.
Para a direita, disse Carlos César, se o Governo liderado por António Costa fizer mais é “esbanjador e facilitista”. Se fizer menos é “sovina e incumpridor”. Mas se quiser mudar, reverter ou fazer diferente, então é acusado de “revanchista”.
A democracia para PSD e CDS, defendeu, só vale “quando são eles a decidir” e o papel que reservam a quem lhes suceder é a obrigação de “respeitarem o que eles tinham decidido”. Ganharam uma vez as eleições e “parece que queriam governar por dois mandatos”, apesar de terem sempre demonstrado um “absoluto desrespeito pelo que prometeram”, mas não deixando, contudo, de demonstrar terem pouco ou nenhum respeito no presente por tudo o que outros estão a cumprir e que prometeram.
Deixaram o país destroçado
Não poupando nas críticas à anterior maioria de direita, Carlos César foi perentório ao acusar PSD e CDS de terem deixado o país “socialmente destroçado, economicamente depauperado, financeiramente bloqueado e atolado na banca” com um governador do Banco de Portugal nomeado “à candonga”, e que, perante este cenário devastador, ainda pensem e defendam que o Governo do PS “estava aqui para fazer o mesmo, piorando o que ficou pior”.
Reagindo à crítica de que o Governo do PS mais não tem feito do que reverter as políticas do anterior Executivo de Passos Coelho e Paulo Portas, o líder da bancada socialista foi claro na contestação às críticas da direita, afirmado que o atual Governo liderado por António Costa se limita a assumir com “transparência e lealdade” os compromissos assumidos junto dos portugueses, o que implica, disse, “desfazer o que foi mal feito, refazer o que foi danificado ou fragilizado e fazer o muito que não foi feito”.
O atual Governo, disse Carlos César, limita-se a seguir o percurso natural num qualquer regime democrático, recordando que “desfazer, refazer e fazer” não é o vazio nem a revolução, mas apenas representa “algo que a direita insiste em não entender”, mas que é “inato em qualquer democracia” que é o direito à “mudança”.
Reconstruir o que foi destruído
Depois de criticar a anterior maioria por ter “revertido os feriados” e de ter acabado “por puro revanchismo” com o SIMPLEX e com o programa Novas Oportunidades, “apenas para destruir uma marca positiva anterior”, o líder da bancada socialista garantiu que o PS cumprirá com o seu programa, repondo e refazendo o que foi destruído pela direita.
Com a governação do PSD e do CDS, ainda segundo Carlos César, os indicadores de pobreza em Portugal atingiram “humilhantes recordes”, para o que muito terá contribuído a diminuição drástica do número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), que “afetou predominantemente crianças”, os cortes cegos e sem critério no Complemento Solidário, afetando um terço de idosos, os significativos cortes de pensões e ainda, ente outros, a destruição do abono de família, deixando ao abandono mais de 80 mil crianças e jovens pobres.
O Governo do PS, garantiu o líder parlamentar, cumprirá o seu programa e não deixará de reverter todas as políticas que acha “injustas e desajustadas”, perguntando à direita se defende que o “humanismo é uma qualidade dos fracos”, ou se é “condenável que se queira reverter o aumento da pobreza”.
Quanto à Educação, Carlos César acusou a direita de durante quatro anos e meio ter desenvolvido uma “contra-reforma” e de ter “desfeito o que está bem feito”, nomeadamente ao introduzir exames nos quarto e sexto anos do ensino básico, iniciativa que mereceu a “reprovação quase generalizada dos parceiros educativos”, sendo agora urgente, como defendeu, “reverter o processo” para se poder também “reverter o abandono e o insucesso escolar”.
O líder da bancada socialista falou também sobre a Saúde, tendo a este propósito condenado a política seguida pela direita, entre outros aspetos, pelo incremento das taxas moderadoras que foram aumentadas “muito acima do que a troica exigiu”, garantindo que o PS “irá reverter estes aumentos”, não deixando de admitir que a direita, a exemplo de outras áreas, não perca também muito tempo até “concordar com esta reversão”.