A DIREITA FAZ DE CONTA
Escrevi, há cerca de um mês, nesta coluna, que os incêndios não afetam eleitoralmente o PS. Para ilustrar a minha tese, apontei como exemplo o facto de Pedrógão Grande ter sido antes das autárquicas e a vitória socialista não deixou de ser bastante expressiva. Na mesma linha do que afirmo, a sondagem do Expresso, divulgada no sábado, dá 40 por cento ao PS em legislativas e 28 ao PSD. Doze pontos de diferença! O fracasso dos objetivos da direita é total.
Não está em causa, de forma alguma, a justeza das indemnizações. Ninguém as ousa contestar. Nem a profunda tristeza e repulsa que todos sentimos pelas tragédias. No combate aos fogos, fez-se tudo, também, dentro do possível. Ainda há dias, o Governo atuou pronta e eficazmente na seca em Viseu. Só que os fenómenos da natureza são sempre difíceis, a maioria das vezes impossíveis, de controlar. Todos o sabemos, só que a oposição faz de conta que não sabe. São as conveniências de momento. Mas o cerne da questão é que não se pode pedir ao Governo PS com dois anos, que resolva definitivamente o problema dos incêndios, que se arrasta há mais de 40! O Presidente Marcelo, quando disse que o atual Executivo tem apenas dois anos à sua frente para o solucionar, se quisesse ser mais certeiro teria dito: ainda só teve dois anos!
A direita protesta e vocifera, agora, por causa dos fogos, mas esquece-se – nem todos têm memória de elefante, como Marcelo diz ter – que Cavaco Silva foi primeiro-ministro, durante dez anos, e o drama dos incêndios afligiu sempre os portugueses. Se o problema tivesse sido resolvido, não teria havido, neste ano, vítimas mortais. A responsabilidade de Cavaco não pode ser alijada. E a de Passos Coelho também não. O país com ele continuou a arder. Como se vê, a responsabilidade já vem de trás. O que me parece, também, evidente é que o debate político, em Portugal, precisa de ser urgentemente repensado. Por culpa da nossa oposição, revela-se bastante medíocre.
Não é debatendo as catástrofes naturais nem as carreiras dos professores que se fazem os grandes países. As chamadas necessidades básicas da população, ou seja, saúde, educação, habitação, transportes e emprego, nomeadamente, raramente são discutidas. É o grau de satisfação dessas necessidades que serve para aferir o desenvolvimento dos povos. Temos ainda muito a fazer neste domínio, se bem que o Governo PS tenha já feito bastante, como, também, agora, no combate e prevenção dos fogos. Mas a oposição, disse o primeiro-ministro, é especialista em birras e tricas. E adora a chicana política. A sua falta de postura de Estado já lhe custou muito e ainda vai custar mais. Qualquer que seja o novo líder do PSD, a vitória do PS nas eleições legislativas de 2019 parece certa. O partido da rosa tem o povo ao seu lado. O povo gosta dos socialistas. Que melhor se pode desejar?