A Deriva Populista
Em todas as culturas há quem coloque a comunidade acima dos seus interesses específicos e quem faça o contrário. Valorizar mais um lado ou o outro desta realidade faz parte da diferenciação ideológica que caracteriza a democracia.
Os populistas vão para além desta legítima dicotomia de análise. Para eles não interessa compreender os fenómenos para os tentar resolver num quadro de promoção do bem comum. Pelo contrário, acicatam o medo, os sentimentos menos nobres e os estereótipos que existem na sociedade.
Quando partilhei o meu espanto pelo discurso do candidato da Coligação PSD/CDS/PPM à Câmara Municipal de Loures, muitos alegaram que ele se limitou a dizer o que muita gente pensa. Não duvido. A base das narrativas populistas é exatamente essa. Pegam nos estereótipos e em vez de propor soluções para os problemas ou práticas que os originam, usam-nos para fraturar a sociedade, insuflar o ódio, gerar o vazio ético e moral sobre o qual desejam governar a seu belo prazer.
Os alvos populistas são diversos e entre eles os argumentos raciais têm vindo a ganhar peso com o aumento dos fluxos migratórios e com a associação de práticas terroristas a certos grupos e culturas. Devido à estrutura da sua imigração e ao bom senso dos principais partidos políticos, Portugal tem escapado até hoje ao flagelo do populismo xenófobo, ensaiado apenas por pequenos grupos radicais que nunca conseguiram ganhar expressão social ou eleitoral.
O fenómeno da candidatura populista e xenófoba em Loures indicia um risco de contaminação em Partidos cuja história, identidade e papel estruturante no regime democrático deveriam estar a isso imunes. O recuo do CDS/PP merece ser saudado. Estranha é a persistência do apoio da direção do PSD/PPD a uma linha de intervenção política que contraria a sua identidade e pode gerar uma deriva populista com graves danos para a sociedade portuguesa.