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A comunicação, ferramenta essencial à condução do governo

A comunicação, ferramenta essencial à condução do governo

Apesar do vira-casaquismo mediático a que temos assistido nos últimos dias, sobretudo após a posse do governo, António Costa deve estar ciente de que terá contra si e contra o seu governo muitos dos <em>spin-doctors</em> que povoam as páginas de jornais e os écrans das televisões.

Opinião de:

A comunicação, ferramenta essencial à condução do governo

Costa venceu a fúria da imprensa económica, que viveu nos últimos quatro anos em concubinato com o governo anterior, o empresariado e os representantes da finança. E como os spin-doctors se espreitam e vigiam uns aos outros essa fúria contagiou comentadores e editorialistas de outros meios, alguns contrariando mesmo a aura de sensatez e independência que lhes conferia merecido crédito. Muitos estão a mudar o chip mas ainda vão ficar prisioneiros do preconceito e da ignorância que ostentaram em textos inflamados em que discutiam conceitos como “legitimidade”, “constitucionalidade”, “golpismo”, “radicalismo” e outros tantos, sem saberem, afinal, do que falavam. Verdade se diga que não estavam (e ainda não estão) sós. Tiveram (e ainda têm) a companhia de políticos supostamente experientes e informados, entre os quais os líderes da coligação que nos governava, e entre estes, Paulo Portas, que ainda continua a falar do governo de António Costa como “ilegítimo”.

Tendo de viver com uma imprensa militantemente vigilante (como não foi até agora) à espreita de contradições, disfunções, desacertos e quezílias entre o governo e os partidos que o apoiam, António Costa não pode descurar a vertente comunicacional do governo. O poder da palavra é muito forte nas democracias mediáticas em que vivemos. Porém, é preciso saber usá-lo, evitando, por exemplo, o sistemático “falar-entre-portas” (expressão usada por Mário Soares quando interpelado à entrada e à saída dos locais onde se deslocava). Filho e irmão de jornalistas, António Costa sabe que os jornalistas precisam de notícias e que os políticos precisam de ser notícia. Gerir o equilíbrio entre as duas partes não é fácil, mas é imperioso.

Tão importante como o uso criterioso da sua palavra é a contenção que o primeiro-ministro deve exigir aos seus ministros, alguns dos quais mostraram já apetência pelo microfone e pela câmara de televisão. Os jornalistas e os comentadores procurarão em cada palavra e em cada frase menos pensadas sinais que explorarão negativamente contra o governo e os seus parceiros. Não há volta a dar, a lógica dos media procura o dissenso, a discórdia, a contradição. Como diz o povo, não é defeito, é feitio.

Tão importante como coordenar políticas com os parceiros é coordenar a comunicação interna (no governo) e externa (com os parceiros). A comunicação é hoje uma importante ferramenta na gestão de uma empresa e, por maioria de razão, na condução do governo. António Costa não pode descurá-la.