A bonomia na Política
A sua escolha pelo PSD de Sá Carneiro, foi clara desde o início, ninguém admitindo que pudesse ter pendido para o PS, como bem poderia ter acontecido com outros dos seus colegas da brilhante Pleiade de jovens intelectuais coimbrãos do PSD, onde pontificavam Mota Pinto e Figueiredo Dias. Encontrei-o em Lisboa, já no verão quente de 75, tivemos uma breve mas incisiva conversa, onde hoje me é fácil reconhecer a razão do seu lado, frente à cavalgada dos amanhãs que cantam. Nessa altura eu estava no MDP e entre mim e o PSD ainda estava a social democracia da “Europa connosco” do Dr. Soares. Muito distantes todos.
Mas a bonomia de António Barbosa de Melo era sempre uma passadeira para conversa amena. Voltamos a ver-nos aquando da sua presidência da Assembleia, no único mandato em que me candidatei. Apreciei-o então ainda mais. Lembremo-nos dos anos difíceis do cavaquismo grimpante, maioria absoluta, a maior de sempre, ministros “adiantados mentais” e líderes parlamentares de extrema arrogância que depois caíram quase na lama. Bom para esquecer. Mas Barbosa de Melo teve aí um papel importante de descompressão. Conseguiu ser facilmente respeitado por todos, por se comportar como presidente de todos. Muitas vezes era visível que o seu coração rachava entre a sua dignidade e a imposição do cavaquismo. O papel de coesão nacional por ele desempenhado só foi substituído por uma maioria parlamentar nova ter mudado as coisas em 2005. Mas atrevo-mo a pensar que se Cavaco continuasse, não confiaria a Barbosa de Melo a presidência da Assembleia, muito embora a sua popularidade fosse aí muito elevada. Realmente, não eram “farinha do mesmo saco”.
Conversei com ele à puridade um par de vezes, saltou a velha cumplicidade coimbrã e a sua permanente simpatia. Era daqueles que não necessitava de elevar a voz. Todos o respeitavam e a sua amizade, deixa, a muitos de nós, uma visível saudade.