A ameaça do populismo torna imperativo reforçar os valores da democracia
“O esquecimento está outra vez a vencer a memória”, afirmou Manuel Alegre, recuperando as palavras do escritor checo Milan Kundera. No âmbito da cerimónia realizada na reitoria da Universidade de Lisboa, onde foi agraciado com o grau Doutor Honoris Causa, o histórico socialista acredita que “nasceu da hegemonia cultural do poder financeiro globalizado”, onde “os poetas, escritores e filósofos são mais precisos. Para sacudir a anomia, como fez Antero de Quental. E escrever Sol, como Ramos Rosa. Para proclamar que os Estados não podem ser aprisionados pela mão invisível do mercado e por interesses que se sobrepõem ao interesse geral”.
Critico e atento, Manuel Alegre considera que “há uma crise de convicções e é preciso reforçar na Europa e no mundo os valores da democracia e da coesão social, para combater o racismo, a xenofobia e o renascer da linguagem e dos tiques do fascismo que, em certos países, já contaminam o poder”.
Neste contexto, o laureado reconhece e congratula-se “com a exceção boa que Portugal é hoje, e aplaudo a posição e as palavras do Presidente da República nas Nações Unidas”, disse o escritor.
Perante “a presença das mais altas figuras do Estado” na cerimónia, Manuel Alegre disse sentir “um reconforto e um estímulo para quem acredita que as nossas principais forças são a Língua, a História e a Cultura”.
Manuel Alegre considera que esta distinção constitui para si uma “honra”, mas também lhe suscita “grande desassossego”, porque, disse, “me obriga a ser mais do que eu próprio”, sendo que, acrescentou, “é, ao mesmo tempo, um reconforto moral para quem, por circunstâncias históricas conhecidas, bem cedo na vida se viu privado de universidade e de país”.
O socialista Manuel Alegre é uma das mais proeminentes figuras nacionais, quer enquanto autor literário, quer pelo seu extenso e diversificado percurso político e cívico, que se traduziu em inúmeros prémios literários e, também, em condecorações pelo Estado português, como sejam a atribuição da Grã-Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal (19 de maio de 1989) e da Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (20 de maio de 2016).