Em entrevista concedida, ontem, à SIC, durante o espaço informativo ‘Jornal da Noite’, o Secretário-Geral do PS fez notar que “as respostas escritas que o primeiro-ministro fez chegar ao Parlamento não são suficientes para esclarecer as suspeitas que recaem sobre a empresa” da família Montenegro, lembrando que o chefe do executivo não só não respondeu cabalmente ao Bloco de Esquerda nem ao Chega por escrito, como também não respondeu antes, oralmente, às questões colocadas pelo PS, em sessão plenária da Assembleia da República.
Censurando fortemente a opção de fuga para a frente do chefe do Governo, Pedro Nuno Santos fez questão de lembrar que Montenegro já sabia de antemão a posição da maioria dos partidos sobre uma eventual moção de confiança.
Neste ponto, o líder socialista deplorou que, ciente de uma rejeição anunciada, o primeiro-ministro tenha decidido avançar “mesmo assim”.
“Isto significa que esta moção de confiança não é bem uma moção de confiança. É um pedido de demissão cobarde, na medida em que não teve coragem de assumir as consequências do que aconteceu e de pedir a demissão”, acusou, avisando que no atual cenário, resta apenas uma forma de evitar eleições antecipadas.
“Depende do primeiro-ministro e da retirada da moção de confiança”, apontou, referindo-se ao debate parlamentar e à votação desta terça-feira.
É que, vincou Pedro Nuno Santos, não se pode “virar o mundo ao contrário” e “colocar pressão” sobre o PS que, sobre moções de confiança, “teve sempre uma posição muito clara desde há um ano”, ou seja, “sempre disse que as chumbaria”.
Depois, o Secretário-Geral socialista alertou para a significativa gravidade do momento político que o país atravessa, instando “quem tem confiado ao longo do tempo no PSD” a pensar muito bem.
CPI necessária para clarificar, discutir e apurar
Ainda a este propósito, o líder do PS evocou afirmações do histórico fundador do Partido Social Democrata.
“Francisco Sá Carneiro dizia que a política sem risco é uma chatice, e sem ética é uma vergonha”, disse, considerando que, “na realidade, aquilo a que temos assistido são exemplos claros do que é a atuação de um primeiro-ministro sem ética”.
“Isso é inaceitável numa democracia avançada”, sublinhou, apontando de seguida que, quando se fala “no crescimento do populismo” e na forma de o combater, a solução não passa por “atirar para baixo do tapete os problemas que, infelizmente, alguns políticos trazem”.
“É clarificar, é discutir, é apurar. E neste momento já não há resposta escrita, não há resposta oral que resolva a suspeita que só é resolvida se nós conseguirmos ter acesso às provas, aos documentos que comprovam que o trabalho foi realizado”, disse, referindo-se à comissão parlamentar de inquérito potestativa requerida esta segunda-feira pelo pela bancada parlamentar socialista.
Portugal precisa de rumo e de transparência na vida política
Enfatizando que só com um inquérito parlamentar será agora possível saber se Portugal “tem ou não um primeiro-ministro livre”, o Secretário-Geral do PS sustentou ser este “o único instrumento que permite ter acesso a prova documental, mapa de horas dedicado ao trabalho, o relatório do trabalho que foi feito, as interações e os e-mails”.
“Trata-se de provas que provam que, de facto, há trabalho que justifique as avenças que são pagas”, explicou.
Confrontado depois com a iminência da mais uma batalha eleitoral antecipada, o líder do PS assegurou que irá à luta “focado na vitória”.
“E na vitória porque não só precisamos de transparência na vida política, de confiança nas instituições e no primeiro-ministro, mas precisamos também de um rumo”, clarificou de seguida, condenando a atual governação chefiada por Luís Montenegro, que “não tem estratégia, nem propósito, nem visão”.