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E o país, senhor primeiro-ministro?

E o país, senhor primeiro-ministro?

O PS é o partido do socialismo democrático por uma razão fundamental e decisiva: entendemos que pode haver democracia sem socialismo, mas não pode haver socialismo sem democracia. Primeiro, antes das nossas propostas, está a democracia. No mesmo sentido, sempre foi para nós muito claro que primeiro está o país. Portanto, em lugar de querer fazer valer sempre os nossos pontos de vista, queremos, antes de mais, preservar as instituições democráticas.

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Opinião de:

O comportamento do PS, mais uma vez desde as últimas eleições legislativas, sob a liderança de Pedro Nuno Santos, deu provas vastas dessa orientação fundamental. Foi o PS, mais do que qualquer outra força política – mais do que a AD, apesar de esta ocupar o Governo – que deu a estabilidade possível à legislatura: não votámos a rejeição do programa de governo, fizemos eleger o Presidente da Assembleia da República, permitimos a aprovação do Orçamento, inviabilizámos as moções de censura que pretendiam derrubar o governo. Não fizemos isso por apreciar as políticas do governo – que não apreciamos –, nem por desculpar a sua incompetência arrogante – que não desculpamos –: fizemo-lo para não bloquear o funcionamento das instituições democráticas.

Já o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem prioridades completamente diferentes. A Europa e o mundo enfrentam desafios terríveis; a possibilidade de uma guerra não é descartável; mesmo que não cheguemos lá, vamos sofrer as consequências económicas e sociais da degradação das relações internacionais e de uma nova corrida aos armamentos – e Luís Montenegro parece distraído de tudo isso e focado apenas em resolver o seu próprio caso. Até as suas responsabilidades internacionais parecem não estar a ser completamente acauteladas, levando Portugal de uma voz escutada com atenção e respeito na União Europeia, num passado recente, para uma voz irrelevante na atual conjuntura. Parece que ele, a sua pessoa, o seu cargo, vem antes de tudo, até antes do seu próprio partido.

As instituições da República, o PSD como um dos partidos que ajudaram a estabelecer o regime democrático, os eleitores que confiaram nele, podiam ser preservados se Luís Montenegro se tivesse prontificado a dar esclarecimentos cabais, desde o princípio e sem truques, acerca da situação que o país, atónito, descobriu ser a sua, pelo menos, desde que chefia o Governo. O regime democrático não pode ser exposto à prova de tentar passar uma esponja eleitoral sobre as suspeitas que, legitimamente, o país tem acerca da conduta de Luís Montenegro.

Há muitas maneiras de evitar uma crise política sem fugir ao apuramento da verdade. Basta, para isso, que o atual chefe de governo dê prioridade ao país, à governação, às instituições – e deixe de pensar, em primeiro lugar, na sua própria pessoa. E esclareça. Esclareça cabalmente. Esclareça transparentemente. E renuncie a sobrepor a sua pessoa a todos os interesses da governação, a todos os interesses das instituições democráticas, a todos os interesses da República. Luís Montenegro pode optar por continuar a agir mais em proteção de si próprio do que em defesa da República, mas é justo perguntar-lhe: e o país, senhor primeiro-ministro?

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