Na sessão evocativa do centenário de Mário Soares, que decorreu no sábado, no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, contando com a presença do Secretário-Geral do PS, Pedro Nuno Santos, e onde também discursaram o chefe de Estado de Cabo Verde, José Maria Neves, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o antigo autarca, governante e dirigente socialista João Soares, o ex-primeiro-ministro começou por salientar que a “história de Portugal do século XX não seria a mesma sem Mário Soares” e “o rumo integrador, tolerante e cosmopolita da nossa Europa não teria sido o mesmo sem a sua participação ativa”.
“Mário Soares pensou sempre Portugal como um europeísta. Pensou Portugal com olhos europeus. Sempre fiel aos valores humanistas que reconstruíram a Europa no pós-guerra. Que a foi aproximando, integrando e alargando. Destino comum na defesa do humanismo, da liberdade, da paz, da justiça social, da prosperidade e da democracia”, enalteceu.
Foi por pensar Portugal como europeísta, continuou o também antigo Secretário-Geral socialista, que Soares “lutou sempre por um país livre e mais justo, menos desigual e cada vez mais aberto ao mundo”.
“Porque só cumprindo estes valores, poderia Portugal mudar o rumo da sua história em ditadura, pôr termo ao colonialismo, e encontrar na Europa o caminho de uma história afortunada”, sustentou.
António Costa realçou que Mário Soares “soube criar, recriar e mobilizar solidariedades europeias espalhadas por toda a União” e lembrou que, apesar de ter presidido a três governo de curta duração, “a verdade é que sua a determinação fez desses governos determinantes e que estivessem precisamente no início, durante e no termo” do processo de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE).
“Sabemos que muitos problemas subsistem, mas o Portugal de hoje é radicalmente diferente do Portugal que tínhamos em 1985. E grande parte dessa diferença se explica pela nossa adesão à então CEE. E este Portugal era o Portugal sonhado por Soares, absolutamente aberto ao mundo. A Europa estava, a partir de então, definitivamente connosco”, sublinhou.
António Costa frisou, de seguida, que a “inspiração de Mário Soares” é agora precisa, “mais do que nunca”, numa altura em que se vivem “tempos de tensão e medo”.
“Precisamos mais do que nunca da inspiração de Mário Soares para, em Portugal e na União Europeia, fortalecermos o que nos une e para enfrentarmos o que nos tenta separar: pulsões imperiais, tentações protecionistas, intenções nacionalistas, intuitos xenófobos, propósitos desinformativos, desígnios disruptivos”, sublinhou.
Para António Costa, “a Mário Soares e à sua geração política devemos a vitória da visão estratégica sobre a resistência dos interesses menores, a vitória da vontade sobre o temor daqueles que receavam o desafio da integração, da preservação do interesse comum sobre a dissonância insanável, da cultura diplomática sobre o conflito violento, do exemplo ético sobre a vulgaridade”.
“É essa sua grandeza intemporal que hoje celebramos neste seu centenário. Em Portugal e na Europa. É essa sua dimensão intergeracional que nos deve orientar no futuro. Hoje e sempre, viva Mário Soares”, finalizou.