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O desmanchar do Presépio

O desmanchar do Presépio

O efeito Costa no panorama político está a ser mais visível do que se pensava. Basta ler os editoriais quase elogiosos, os balanços de fim de ano sobre a figura nacional de maior relevo e sentir o que se julga ser o pulsar coletivo do País. António Costa está a ser ungido pelo poder. Tardiamente, é certo, mas a consistência entre o que se prometera e o que se vai executando está a derrubar as barreiras da desconfiança, do ceticismo e da descrença. Estamos muito longe do entusiasmo, do apoio incondicional e ainda menos do panegírico, tão habituais nas luas de mel da política. Mas quando se pensava que nunca haveria esponsais, chegarmos à pacificação entre famílias parece um milagre.

Opinião de:

O desmanchar do Presépio

Muitos factores para tal contribuem. Em primeiro lugar, a revelação gradual dos desastres da governação anterior. O caso BANIF foi simbólico pela gravidade da omissão e desinteresse da coisa pública de que deram sinais Maria Luís e Passos Coelho. Os dramas das mortes por falta de assistência conveniente aos fins de semana em hospitais do SNS foram o exemplo chocante de uma realidade disfuncional ou subfinanciada, qualquer que seja a explicação adotada. 

E agora, temos a fuga de Portas ao castigo de sofrer na oposição os efeitos da tempestade pelos ventos que semeou. Não tenho o direito de me imiscuir na vida interna dos partidos. Mas tenho o dever de me pronunciar quando um ex-vice-primeiro-ministro abandona a barca da política com o vago argumento de sentir encerrado um ciclo político. Ou seja, quando não nos convém sofrer os tratos de polé, ainda que benignos, que qualquer partido sofre na Oposição, inventamos um fim de ciclo para a evasão de responsabilidades. Com toda a tolerância dos que se mantêm, engodados pela possibilidade de ascenderem ao estrelato, na probabilidade de um para seis. Francamente, depois de tudo o que o PSD fez pelo CDS e Portas, acho que os meus distintos adversários têm direito a sentir-se mais isolados e até maltratados. Ao lado de Portas, Passos quase faz figura de herói. Contra ventos e marés mantém o timão da barca.

Bem sei que estamos na quadra natalícia, que esta tolerância não dura sempre, que a nova oposição se irá reagrupar para reunir forças. Sei também que são inevitáveis erros da nova governação e que a tolerância do Povo é apenas proporcional à perceção, não à realidade. Mesmo sabendo que os mecenas da comunicação reduziram orçamentos a nível drástico, surpreende ver os anteriores zelotas do jornalismo económico de direita aparentemente amaciados. Dirão que esperam por Marcelo. Mas como, se a estrela de Betém apontará agora para a fuga para o Egipto?