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EUROPA, TERRORISMO E NACIONALISMO

EUROPA, TERRORISMO E NACIONALISMO

A União Europeia tem falhado na resposta às crises que nos últimos anos e num curto espaço de tempo a têm assolado. Está agora confrontada como nunca esteve com a ameaça terrorista, o que levou a França, pela primeira vez, a invocar a cláusula de assistência mútua do Tratado da União Europeia, o artigo 42.7, mesmo que cada um dos Estados-membros tenha um empenho muito variável.

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Nos últimos anos a Europa viu crescer os populismos, os euroceticismos e a xenofobia em formas diversas, mas invariavelmente com a pulsão nacionalista como pano de fundo. A Europa foi incapaz de responder adequadamente à crise financeira, que a assolou e pôs em perigo as democracias nacionais, à crise que rebentou na Ucrânia e dividiu a Europa, que não soube lidar com a potência russa, e foi incapaz de gerir o drama dos refugiados que, ou morrem no mediterrâneo ou esbarram nos muros que entretanto foram sendo erguidos em vários países, não obstante serem criticados ao longo de tantos anos pelos europeus, fosse na Palestina ou em qualquer outra parte do mundo.

Mas agora a Europa tem outra crise, a do terrorismo, provocada pelos bárbaros atentados de Paris no passado dia 13 de Novembro, que veio culminar uma série de ataques que se desenvolveram após o 11 de Setembro, designadamente em Madrid (2004), Londres (2005), Bruxelas (2014), Copenhaga (2015) e Paris, duas vezes em 2015. E isto sem contar com dezenas de outros ataques de menor dimensão ou tentativas que foram impedidas pelos serviços de segurança.

E em virtude desta incapacidade para dar uma resposta adequada aos grandes desafios que se colocam aos europeus, os nacionalismos têm ganho força, como o demonstra a popularidade de Marine Le Pen em França, a vontade dos britânicos de abandonar a UE, as derivas húngara e polaca, entre outros sinais de preocupação. Quanto maior é o afastamento dos cidadãos da União Europeia, maior é a sua tendência para caírem no abismo nacionalista. 

Dizia com toda a dimensão de um grande estadista François Mitterrand no seu discurso em Estrasburgo em 1995 que “o nacionalismo é a guerra”. Ou seja, que os egoísmos nacionais potenciam a desconfiança entre os povos e, mais tarde ou mais cedo, acabam por levar ao confronto, precisamente o contrário do espírito que presidiu à criação da União Europeia, que é a construção de um espaço aberto, sem fronteiras, com parceiros em permanente negociação e objetivos comuns de desenvolvimento, que devem a todo o custo ser preservados.

Portanto, a Europa (e o mundo) tem de vencer a guerra contra o terrorismo, que tanto mata de forma bárbara e indiscriminada em Paris, como em qualquer parte do mundo. E tem aqui de fazer uma demonstração de coesão e solidariedade que não tem manifestado noutros contextos. A cada falhanço, é mais um alicerce do projeto europeu que se desagrega. 

E, já agora, seria também importante que os Estados-membros pensassem que tipo de Europa querem e aproveitassem a complexa e sensível conjuntura para rever as relações de cooperação com muitas nações duvidosas. Acabar com a hipocrisia e o cinismo da realpolitik seria também um progresso civilizacional considerável para promover a paz no mundo.