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Democracias Europeias

Democracias Europeias

Há dias, passou-nos por baixo dos olhos esta frase: "Em Portugal tem que se explicar que é a maioria na AR que sustenta o governo, fora de Portugal tem que se explicar porque não se percebe isso em Portugal".

Opinião de:

Democracias Europeias

É isso mesmo. A Europa serve para tudo. Serve para justificar as nossas politicas quando elas são injustificáveis e se procura um bode expiatório: até não queríamos fazer assim, mas as instituições europeias a isso nos obrigam…. Mas também deveria servir para aprendermos e para ensinarmos. E serve, embora às vezes não pareça. Muitas vezes me dizem “é ignorância; as pessoas não sabem o que se passa nos restantes Estados-membros da EU”. Não é verdade, e sobretudo quem usa este tipo de argumentos está bem informado, mas mais uma vez recorrem à mentira como método. 

Em vários países europeus, o primeiro-ministro não é o líder do partido mais votado quando este não tem maioria absoluta. Veja-se o caso de Jean Claude Juncker, o atual Presidente da Comissão Europeia. primeiro-ministro do Luxemburgo de Janeiro de 1995 a Dezembro de 2013, nas eleições de Outubro de 2013, apesar de o seu partido ter sido o mais votado, não conseguiu fazer uma coligação maioritária no Parlamento. Não foi primeiro-ministro porque a coligação constituída no Parlamento Luxemburguês não incluía o seu partido. O mesmo se passou na Dinamarca. É o funcionamento normal das democracias. E nós somos uma democracia europeia. 

O mesmo acontece com a participação de partidos comunistas em governos democráticos de países da União europeia. Em Chipre, um dos poucos regimes presidencialistas da EU, o Partido Comunista Cipriota (AKEL) venceu as presidenciais em 2008. Dimitris Christofilias cumpriu o seu mandato até 2013, nenhum sobressalto nem em Chipre nem na EU. Presidiu mesmo ao Conselho Europeu uma vez que Chipre, duramente o seu mandato, assumiu a presidência rotativa (ainda existente na altura) da EU. Em França, também presidencialista, participou no governo (dois ministros), a última vez em 2002, com Chirac Presidente da Republica. Na Dinamarca, integra a “Aliança Verde Vermelha”, aliança que apoiou a ex-primeira ministra social-democrata Helle Thorning-Schmidt entre 2011 e 2014. Na Grécia, em 1989.  Estes são apenas alguns exemplos. E não me lembro de sobressaltos nem de dramas provocados pela participação dos comunistas em governos europeus. 

Estes dois ingredientes fazem parte do cenário político que estamos a viver em Portugal. Há uma tentativa da direita de os dramatizar, de porem mesmo em causa a sua democraticidade. Sempre falámos da originalidade do processo democrático em Portugal. Mas neste caso não estamos a ser originais; estamos a reproduzir ou a reinterpretar processos que outras democracias vivem ou já viveram. Com normalidade democrática.