A mensagem que nos chegava era que os comunistas e a extrema-esquerda estavam a tentar fazer algo semelhante a um golpe de Estado para tomar sozinhos o poder e que importava resistir e reagir. Pouco fizemos, mas tudo, na nossa juventude, estávamos dispostos a fazer.
Nessa altura estava em Lisboa há pouco tempo, mas a tensão existente entre o PS e o PCP era vivida diária e eruptivamente, inclusive entre pessoas que tinham um relacionamento mais próximo. Lembro-me de, por esses dias, numa pastelaria que já não existe, na Avenida da República, perto de uma sede do PCP, de ter sido ameaçado de pancada por um grupo da UEC (União dos Estudantes Comunistas), do qual faziam parte outros dois açorianos – ambos, aliás, acabaram, anos depois, por desempenhar cargos dirigentes em governos nos Açores, do PSD um, e do PS, nomeado por mim, outro. O 25 de Novembro terá “ensinado” a essas e a outras pessoas que, na Democracia de Abril, o PCP, tal como outro qualquer partido, não podia ser o todo, mas ensinou à direita mais à direita que o PCP não podia deixar de ser uma parte do todo.
Os acontecimentos desse dia, revisitados ao longo dos anos, foram sendo corrigidos e objeto de melhor interpretação quanto aos seus propósitos e quanto à identificação e aos papéis dos seus autores e atores. Ainda hoje surgem publicações que aclaram esses acontecimentos. Seja como for, o que é certo é que, como há vários anos o disse, o 25 de Novembro “foi uma data muito relevante para o melhor caminho desejado em abril de 1974”. Todavia, não pode haver dúvidas: o dia essencial foi (é!) o 25 de Abril de 1974.
No 25 de Novembro, perante as tentações que se cruzaram no processo revolucionário, confirmámos a rutura com quaisquer projetos desvalorizadores da democracia pluralista e multipartidária. Por isso, nunca poderemos deixar de celebrar o 25 de Abril e não devemos esquecer o 25 de Novembro.
Mário Soares na liderança política popular, que já havia demonstrado no enorme comício do PS da Fonte Luminosa, e Costa Gomes tal como Ramalho Eanes na coordenação político-militar, não esquecendo outros operacionais e o papel continuado de Melo Antunes e do Grupo dos Nove, cumpriram com sucesso a correção de trajetória que se impunha. E uma coisa é certa: a direita presunçosa, agora no poder em Portugal, falava baixinho em 1975 – “andam todos debaixo do chapéu-de-chuva do PS!”, dizia-se com verdade.
O 25 de Novembro não foi obra da direita; foi obra da Democracia.
50 anos depois, os perigos das derivas totalitárias, especialmente da extrema-direita, adensam-se um pouco por toda a parte como se o passado se tivesse furtado à memória de muitos. Portugal não é exceção, pelo que com candidatos a ditadores não se pode contemporizar…a começar pelas próximas eleições presidenciais.
Estarei, no dia 25 de Novembro, na cerimónia da Assembleia da República e com o PS no Largo do Rato a lembrar esse dia.
Carlos César
Presidente do Partido Socialista
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