2015, o ano Crisálida
Foi um ano longo e difícil. O governo arrastava-se em fim de mandato sem chama nem propósito, exceto o de finalizar vendas ou concessões de património público (às vezes sem sucesso; outras, fazendo-o mesmo depois das eleições lhe terem retirado o poder, como no caso da TAP). Ou então, entretinha-se a semear a administração pública e entidades reguladoras de gente sua, pagando favores e minando eventuais futuras governações do PS. Mesmo no final da legislatura, ainda teve o arrojo de humilhar as mulheres portuguesas com a alteração da Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez.
Em tudo 2015 foi verdadeiramente um ano surreal: o défice esteve sempre acima do vermelho – apesar da queda do preço do petróleo; a dívida nunca baixou significativamente – apesar das receitas das privatizações terem duplicado acima do que a Troica previu e dos juros estarem a preço de saldo; a receita da sobretaxa do IRS foi arma eleitoral usada sem vergonha nem pudor por Portas e Passos – e até hoje ninguém que a usou e que com ela fez dos portugueses parvos se penitenciou com um mínimo de decoro; as almofadas financeiras de Maria Luis Albuquerque, afinal, não existiam; os resultados eleitorais e a reação do PR; os esqueletos que já começaram a sair de diferentes armários e que prometem ser assustadores – o Banif parece ser apenas um deles, etc.
Ficarei, portanto, pela rama e pelo alívio de ver 2015 chegar ao fim. Mas como tudo na vida tem dois lados, tal como uma crisálida que atravessa uma maravilhosa metamorfose, 2015 terminou de uma forma absolutamente extraordinária: os portugueses elegeram um Parlamento com maioria de esquerda, o PS formou governo e já se sente no ar um sopro de esperança que restitui confiança e dignidade aos portugueses.
Pode parecer pouco, mas é muitíssimo para um país que viveu a preto e branco, sem quase nada de verdadeiro a que se agarrar durante demasiado tempo.
Que 2016 amadureça em plenitude os valores democráticos da crisálida que 2015 viu nascer.