Homens e mulheres como nós
O que leva estes jovens a passarem-se para uma prática irracional e definitiva que os conduz à aceitação do sacrifício da vida como se fosse apenas mais um ato do quotidiano? O que os leva a odiarem o próximo ao ponto de o degolarem como cordeiros, a metralhar multidões como se estivessem numa carreira de tiro e a procurar ajuntamentos para detonarem os seus coletes suicidas e destruidores? O que os leva à Síria ou à Líbia para serem doutrinados, treinados na vilania e na chacina, transformados em mísseis humanos? Sim, certamente o desemprego, a alienação de uma sociedade que tanto os integra como os rejeita, a rutura dos laços de família, a desestruturação da sua rede social próxima, a crise económica que transporta a inatividade ao longo de gerações. Sim, razões lógicas, mas todas parciais. Tem que haver outras explicações. Bem sei que, para quem tem escassos e titubeantes valores, é fácil a sua substituição por mitos e rituais de morte. Foi assim ao longo de séculos, atração de abismo, volúpia de desconhecido sob capa de fraternidade e reparação de injustiças seculares. Mas mesmo entre os alienados do poder, os que se sentem em crença minoritária e por isso a desejam afirmar na veste e no verbo, haverá diferença de ideais. A fraternidade pode dar em construção, mas também pode ser destrutiva. O que desconhecemos é a química do fermento da violência cega, não dirigida, universal, a tudo o que não são e que foram ensinados a repudiar.
Sabemos pouco destas histórias, destas razões. E não temos tempo de aprender com a história. Não temos séculos para acumular e desenhar uma explicação de longo ciclo. Para perceber o racional e poder prever os factos, o próximo golpe. Temos apenas anos, meses, ou até dias. Essa é a terrível restrição da luta contra o terrorismo. Até lá, aquecemo-nos ao calor do repúdio, da solidariedade transeuropeia, ao som da Marselhesa. Honramos os mortos mas não lhes podemos restituir a vida. Elevamos os nossos valores seja de dois mil seja de duzentos e cinquenta anos, mas pouco mais podemos fazer.
Infelizmente, para alguns nem estes valores são sentidos como por aqui. Não falta, mais para Leste, os que reforçam argumentos para recusar fugitivos, para erguer novas muralhas, para aproveitar todos os pretextos para restringir liberdades dos outros, ampliando a sua e daí colher o privilégio da duração no poder. Tempos difíceis. Falar, recusar a clausura, o isolamento, a violência como pretexto para a arbitrariedade. A França usou linguagem decente e conceitos corretos. Talvez esteja a dar mais uma lição ao Mundo.