A Socialista esquecida que mudou a Índia
A independência da Índia em 1947 e a sua separação do Paquistão teve com inevitável consequência uma multidão de refugiados. Dirige as suas atenções para este desafio e cria a União Cooperativa Indiana para auxiliar e reabilitar dezenas de milhares desses refugiados. Nos arredores de Delhi, trabalha incansavelmente para ajudar esses refugiados a reconstruirem as suas vidas, dando-lhes acesso a serviços de saúde, a novas qualificações, novas profissões e a novas aspirações para uma vida realizada.
Gloria Steinem conta que, numa visita que lhe fez, sugeriu entusiasmada, que muitos movimentos de mulheres poderiam aprender imenso com as táticas da Gandhi. Sentadas numa daquelas enormes varandas típicas indianas, a beber tranquilamente um chá perfumado, Kamaledevi sorriu e disse “Well, my dear, of course, we taught him everything he knew”. E foi aí que Steinem percebeu que muito antes de Gandhi a Índia tinha vivido movimentos maciços de mulheres contra tradições humilhantes. Contra a sua imolação juntamente com os seus maridos após a morte destes, defendendo o direito das mulheres se voltarem a casar e ao direito à educação das raparigas.
O trabalho de valorização do artesanal que Kamaladevi fez junto das comunidades rurais, desconhecido de muitos, foi fundamental para a construção de uma Índia, que infelizmente hoje em dia está a atravessar um período de fundamentalismo político e religioso muito preocupantes. O seu trabalho também ajudou Steinem, e espero que todos nós, a perceber a política da História. Essa História, escrita quase sempre por homens, está cheia de lacunas que precisam de ser preenchidas.
E são muitos os que pensam que, enquanto Mahatma Gandhi inspirou e liderou uma revolução política, Kamaladevi Chattopadhyay inspirou e liderou a revolução cultural paralela.
O livro de Ellen Carol DuBois e de Vinay Lal “A Passionate Life” recentemente publicado, ajuda-nos a olhar para a Índia com novos olhos.