home

Upgrade à Democracia

Upgrade à Democracia

Somos cidadãos do século XXI dando o seu melhor para interagir com instituições políticas concebidas no século XIX que se baseiam numa tecnologia de informação do século XV. A frase com que Pia Mancini partiu para a sua já famosa Ted Talk situa uma das imperfeições do sistema que contribui para o distanciamento dos cidadãos do processo político.

Opinião de:

Upgrade à Democracia

Um processo que começou por ser presencial — o debate em grupo, não raras vezes pontuado pelo confronto físico — deu lugar a um processo mediatizado. Primeiro, de forma leve, pelos jornais e publicações. Mas os próprios media evoluíram e as mensagens atomizaram-se para caber no tempo comprimido necessário à televisão, onde o preço da atenção é caríssimo.

O processo vitimou o cidadão interessado, mas não empenhado ao ponto de se envolver no dia a dia dos partidos, propício a quem tem mais do que interesse, tem um desejo de participar por dentro, de moldar o processo.

Tenho uma experiência direta. Enquanto cidadão interessado e com voz, fui desafiado a envolver-me num dos processos com que os partidos costumam querer envolver os independentes, geralmente em período pré-eleitoral. Participei em duas reuniões do Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal (LIPP). É certo que me agradou ver como funciona o processo por dentro. Mas a questão é outra. O meu contributo acabou por ser inexistente, não pelo Partido Socialista, nem pela minha disponibilidade, mas pelas caraterísticas do próprio processo, que me foram desencorajando gradualmente.

Mancini, uma ativista política argentina e fundadora do Partido de la Red, ajudou a conceber e desenvolver o DemocracyOS — um software que pretende ser o sistema operativo da democracia. Evoluiu para se tornar numa plataforma de tomada de decisões em regime colaborativo. Tem sido experimentado, com diversos graus de sucesso, em diferentes latitudes e em projetos que vão de partidos novos a grupos de cidadãos, passando por autarquias que os usam para testar ou aprimorar normas.

Creio que um partido como o PS tem tudo a ganhar com a experimentação deste tipo de processos (e nada a perder). Porque os cidadãos vivem cada vez mais na rede iluminada pela informática e assente nos algoritmos. Porque a comunicação evoluiu demasiado para pretendermos que ainda poderemos operar muito mais tempo a cidadania com os métodos da galáxia de Gutenberg. 

Porque os cidadãos interessados devem ter um papel de maior intervenção nos processos de decisão política e hoje dispomos das ferramentas que possibilitam essa inclusão, sem colocar nada em causa.

O Partido Socialista é o que está mais bem posicionado para testar um upgrade à Democracia portuguesa.