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Um abandono social

Um abandono social

Na sua obra “História da República”, Raúl Rego escrevia sobre a crise política do final do século XIX e início do século XX, circunstanciando a vida política nacional: “É o reencontro final entre a esperança da República e um regime cansado e desacreditado já diante da opinião pública. (…) Nada se queria inovar. Nada se vai querer inovar nos dez anos que restam. Esses dez anos (…) são um desfasamento, um abandono.(…)”.

Opinião de:

Nunca houve injeção de dinheiro público na Associação Mutualista Montepio

As fortes crises políticas nascem destas situações de abandono social, de distanciamento entre governantes e governados. Atualmente o nosso país enfrenta um importante desafio ao nível do emprego. Em Portugal desde 2011, a população em idade ativa vem diminuindo (devido à forte vaga de emigração de muitos trabalhadores qualificados) e vem aumentando quer a precariedade do emprego quer o desemprego de longa duração. Os dados do INE indicam que, nos últimos três anos, o desemprego de longa duração ampliou acentuadamente, sendo que em 2014, segundo o INE, o peso do desemprego de longa duração no total do desemprego estimou-se próximo dos 70%, ou seja uma proporção verdadeiramente recorde. E a verdade é que uma análise à evolução do desemprego de longa duração não pode ser alheia às diversas alterações ao Código do Trabalho ocorridas desde 2011 no sentido de flexibilizar o regime dos despedimentos, contribuindo para o aumento da destruição de emprego.  

Ora, o aumento do desemprego de longa duração inquieta tanto mais que é, frequentemente, apresentado como o sinónimo de um abandono quase definitivo do mundo do trabalho, remetendo muitas pessoas de meia-idade a uma “inatividade forçada”. Para lá da enorme injustiça humana e social este significa a perda de um relevante capital humano para o desenvolvimento do país. 

Se cresce a apreensão com o facto de a economia se estar a tornar profundamente desigual – sendo que o aumento de riqueza não segue acompanhado de equidade, penalizando de forma crescente a maioria das famílias da denominada “classe média” – e o país vive um sentido de “abandono social” que, a prazo, minará a coesão social, necessitamos de tornar a economia mais inclusiva mediante uma regulação laboral que promova equidade social e que defenda o emprego, em particular travando a destruição de emprego permanente e o aumento da pobreza, afinal as principais causas da desigualdades sociais.