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Tempos de violência

Tempos de violência

A opinião pública tem sido sobressaltada, neste fim de Agosto, pela violência juvenil. Jovens de menos de 20 anos, por motivos alegadamente fúteis, agridem-se quase até à morte. Nada de novo, a não ser o grau de violência. Sempre no passado houve rixas de adolescentes, cenas de pancadaria no ócio das férias, com ou sem copos à mistura, com ou sem saias.

Opinião de:

Tempos de violência

O que há agora de diferente é a força bruta com que se bate ou com que se leva. Máquinas artificiais e horas de treino diário reforçam a musculatura destes “heróis do camandro”. As telenovelas divulgam e exaltam os físicos esculturais destes charles atlas do 5º esquerdo. As pequenas contemplam enlevadas as esculturas temporárias, carentes de afago e twittam furiosamente entre si coscuvilhando as namoradices de tais apolos. Está assim criado o caldo da exaltação da pré-violência. De nada vale argumentar que “no nosso tempo” o arquétipo eram os óculos de intelectual, o casaco de tweed e o cachimbo à Rip Kirby. Os valores mais comezinhos iam da solução dos mistérios policiais à leitura silabada dos poemas de Sophia. O nacional-cansonetismo era ridicularizado, por vezes de forma injusta. Os ângulos de sovaco das filmagens do “Raça” de Augusto Fraga eram uma anedota alegremente partilhada. Sovas de rua só nas imediações do Cais do Sodré.

Hoje haverá um Cais do Sodré em cada cidade e vila do interior e mais que um, vários, ginásios de musculação. As miúdas frequentam bares até bem depois da meia-noite. E não é só em Lisboa que se multiplicam as lojas de cerveja low cost, sobrando canecos de plástico por fora de contentores sempre escassos. A compostura é aparente durante a tarde, mas segue-se o jantar e a noitada, agravando-se exponencialmente o risco da incerteza. Mas então no nosso tempo, as centenas de finos sobre as mesas do Mandarim ou do Zé Ricardo? A única diferença está em que agora são rapazes e raparigas os consumidores.

Voltando à violência: claro que nada se resolve controlando bares, discotecas, musculaturas, tudo coisas que o ridículo nunca deixará controlar. Claro que de nada vale instalar filtros anti-violência nos filmes estrangeiros ou nas telenovelas nacionais, as mais delas tentando combinar bem a boa mensagem com a imagem grosseira. Claro que não há locais para prédica atraente de lições de boa moral, para além das prosélitas. Claro que a eletrónica entrou nas casas, nos quartos, nos ouvidos e nas cabeças de filhos e netos. Claro que o futebol descarrega energias, mas também concentra ódios irracionais. Claro que tudo o que se anteponha não passará de “técnica de Kota”. Tudo isto exige muito de pais e avós. Mais ainda de professores e outros educadores.