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Promessas e faturas

Promessas e faturas

Em recente debate no Parlamento, Passos Coelho comprometeu-se a, até ao final do corrente ano, dar médico de família a todos os que o não tenham. Para tal, propôs a contratação imediata de 400 médicos reformados, a 30% do ordenado da função.

Opinião de:

Promessas e faturas

Quer pela dimensão exagerada da promessa, quer por pouquíssimos se terem candidatado (líquida de impostos, a remuneração mensal oscilaria entre 600 e 650 euros), quer por provavelmente lhe terem pedido para se calar, Paulo Macedo apareceu a liderar o debate subsequente. Criticou a modesta mas realista promessa do PS de, em quatro anos, criar mais 100 USF e dar médico de família a 545 mil sem acesso a tal. O atual ministro antecipou mesmo que a coligação PAF iria erradicar essa chaga da nossa cobertura em cuidados primários. Esqueceu-se de dizer que, no tempo do negregado Governo anterior, a média de criação anual de USF era de 60 e que a média dos três primeiros anos deste governo foi de apenas 30, com a agravante de apenas uma ter sido criada nos primeiros cinco meses de 2015. 

Face aos 33 dias de mediana de espera para operações tão urgentes como a do cancro da próstata, o Governo de novo saca uma carta da manga: propõe plano adicional de 22 milhões de euros para, até ao fim deste ano, executar 16 mil cirurgias. Benditas eleições! 

Claro que todos ficamos satisfeitos por se descobrir mais dinheiro ao canto da gaveta. Admitimos até que os 700 milhões de dívidas registadas em abril, em medicamentos de consumo hospitalar e os 600 milhões em dispositivos médicos, possam ser também cobertos de modo miraculoso. Tal como gostaríamos que em quatro meses o Governo conseguisse o que não fez em quatro anos, isto é criar as USF que deveria e poderia ter criado. Se o atual Governo tivesse mantido o ritmo de criação de USF que vinha do anterior, hoje teríamos menos 500 mil Portugueses sem acesso a médico de família.

Ao menos que o Governo estude bem o que propõe. Os 545 mil utentes cobertos de novo na proposta do PS implicam 800 médicos (2/3 em funções e 1/3 de nova geração) e outros tantos enfermeiros de família e assistentes administrativos em 100 novas USF. Deveriam ser o dobro, não nos falta ambição, mas preferimos ser modestos e honestos a ser jactantes e propagandistas como a rapaziada do PAF. Que o Governo, a três meses da campanha eleitoral venha prometer mundos e fundos, só demonstra que não espera estar cá, nem para cumprir a promessa, nem para pagar a fatura.