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Portugal quer estar na linha da frente da reindustrialização da Europa

Portugal quer estar na linha da frente da reindustrialização da Europa

A imagem de Portugal "sai amplamente reforçada" desta crise de saúde pública, quer na "unidade política", quer na manutenção de "todos os elementos constituintes" de uma democracia, defendeu ontem no Parlamento o ministro dos Negócios Estrangeiros.

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Portugal quer estar na linha da frente da reindustrialização da Europa

Ouvido na comissão parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação para conhecer a estratégia de Portugal para ultrapassar a crise económica provocada pela pandemia da covid-19, Augusto Santos Silva, depois de considerar que a imagem nacional e internacional de Portugal está a sair “reforçada” desta crise de saúde pública, quer pela unidade política alcançada ao longo dos últimos dois meses na luta comum contra a novo coronavírus, sem nunca “ter deixado de manter a democracia viva”, quer ainda por ter sabido “preservar as suas capacidades de resposta”, designadamente, como assinalou, ao nível do Serviço Nacional de Saúde (SNS), defendeu que o Governo está empenhado em transformar o país “num poderoso ‘cluster’ da industrialização na Europa”.

“O primeiro eixo [da estratégia portuguesa] é que Portugal quer estar na linha da frente da reindustrialização da Europa e quer pôr ao serviço da Europa as suas enormes capacidades em matéria industrial”, afirmou.

Para o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, um dos aspetos em que Portugal tem assumido maior destaque na Europa, neste período conturbado da crise de Covid-19, tem a ver com a “extraordinária resiliência” que o SNS tem demonstrado, constituindo este ponto, como referiu, um dos elementos mais relevantes que têm sido destacados nos círculos europeus, naturalmente a par, como também assinalou, das questões políticas, económicas, empresariais ou sindicais.

Apesar desta boa imagem que Portugal continua a projectar além fronteiras, o ministro Augusto Santos Silva não tem dúvidas que o setor exportador, que até há pouco mais de dois meses apresentava uma robustez notável, será um dos mais penalizados com a atual crise, com quedas que podem atingir os 14%, não deixando, contudo, de considerar tratar-se de uma quebra “conjuntural” e que a recuperação para os níveis de 2019, de acordo com as próprias previsões da União Europeia, “deverá acontecer em dois, três anos”.

Também para a economia, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros não vislumbra um cenário em que possa haver já em 2021 uma recuperação económica para níveis semelhantes aos que existiam de 2019, mostrando-se, ainda assim, convicto que a previsão do Governo de recuperação em dois, três anos “é mais do que confortável”, sendo mesmo, como salientou, “prudente e timorata”, reafirmando a tese já defendida pelo primeiro-ministro, António Costa, de que a resposta à crise “não deve ser feita através de austeridade”, mas sim “através de investimento de todos e na aposta em novas oportunidades”.

Em relação à presente conjuntura, Santos Silva lembrou que o Estado tem “sofrido a consequência lógica do abrandamento da atividade económica”, desde logo pela “diminuição da receita fiscal”, ao mesmo tempo que tem aumentado “muito significativamente” a sua despesa, quer com “linhas de crédito, quer com recursos que põe ao dispor das famílias, das pessoas e das empresas”, entrando numa rota de financiamento muito superior ao que estava previsto no Orçamento de Estado para 2020, sendo que essa necessidade de financiamento do Estado, como também referiu, “vai crescer nos próximos meses porque na fase de recuperação da economia será necessário mais financiamento”.

Desaconselhável, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, é que se “perca de vista” um dos principais ensinamentos que esta crise trouxe aos países europeus e que tem a ver, como sublinhou, com a “importância da despesa social do Estado” porque tem sido o financiamento público que tem “garantido a capacidade para responder em termos de saúde e de proteção social”.

Unidos temos mais força

Só juntos e com o mesmo propósito será possível baixar o preço do dinheiro que os Estados-membros da União Europeia inevitavelmente terão de procurar junto do mercado, defendeu Santos Silva, reafirmando que só desta convergência será exequível ter financiamentos com “menores custos e prazos de pagamento mais alargados”. Neste sentido, o chefe da diplomacia portuguesa reiterou que tudo será mais fácil se a Comissão Europeia “for em nosso nome ao mercado”, porque aí “obteremos todos um duplo benefício: moratórias mais generosas, prazos de amortização mais geríveis e juros mais baixos se não mesmo inexistentes”, uma cooperação que segundo o governante, permite ainda que os ataques especulativos no mercado feitos por “abutres” tenham “menos pasto para se alimentar”.