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Por favor, não brinquem com a qualidade da vida democrática!

Por favor, não brinquem com a qualidade da vida democrática!

O Partido Socialista anunciou recentemente como será o processo de construção participativa do programa eleitoral. No essencial, dois aspetos. Primeiro, qualquer simpatizante poderá apresentar propostas que gostaria que constassem do programa eleitoral do PS. Essas propostas serão consideradas pelas equipas que estão a construir o programa. Segundo, alguns tópicos precisos serão colocados a votação aberta a militantes e simpatizantes, num processo inspirado nos orçamentos participativos que funcionam há anos em alguns municípios.

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Por favor, não brinquem com a qualidade da vida democrática!

Não é de espantar esta inovação política no Partido Socialista: foi o PS que, pela primeira vez, elegeu um líder por votação direta de todos os militantes; foi o PS que, pela primeira vez, escolheu o seu candidato a primeiro-ministro numas eleições primárias abertas a simpatizantes. Os socialistas empenham-se na qualidade da vida democrática – mas nem todos, noutros quadrantes políticos, entendem isso.

Recentemente, o porta-voz do PSD, Marco António, comentou jocosamente as iniciativas do PS para promover uma participação acrescida na elaboração do programa de governo. O vice-presidente do PSD, alguém que se comporta de modo a permitir a Passos Coelho atirar a pedra e esconder a mão, convidou os militantes do seu partido a enviarem propostas para o Largo do Rato, afirmando que os socialistas revelam necessidade de ajuda para apresentar um projeto de Governo. Segundo o Expresso, terá dito com ironia: “Espero que os meus amigos possam ter a oportunidade de mandar algumas ideias que é para os ajudar a fazer o programa, porque se não for com o apoio, com ajuda dos portugueses e também dos militantes do PSD, não será com estes dirigentes que o PS apresentará um projeto para Portugal”.

Marco António não está a fugir do tom: está apenas a mostrar-se ao nível daquele Passos Coelho que falava de chegar ao governo com a expressão “ir ao pote”. Tristemente, uma forma de fazer política à qual não interessa nada a qualidade da vida democrática.

Agora, continuação do episódio. O diretor do Gabinete de Estudos do PSD diz (ler no Público de hoje) que vai lançar um desafio aos portugueses para participarem apresentando propostas para o programa de governo do seu partido. Essas propostas serão depois trabalhadas pelo Gabinete de Estudos.

Onde é que eu já ouvi isto?!

Alô, dr. Marco António! Poderia explicar-nos o que se passa? Falta de coordenação? Foi desautorizado pelo seu Gabinete de Estudos? Ou, simplesmente, há quem tenha mais senso no seu partido acerca da importância que tem a participação para a qualidade da democracia?

* Secretário nacional do PS