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Poder político deve acompanhar o combate pela pacificação e erradicação de fenómenos de violência

Poder político deve acompanhar o combate pela pacificação e erradicação de fenómenos de violência

O poder político deve legislar sobre fenómenos como a “violência, a corrupção ou as violações do segredo de Justiça” no desporto e “sobretudo no futebol”, defendeu esta manhã no Parlamento, Eduardo Ferro Rodrigues, na abertura da conferência sobre Violência no Desporto que decorre na Assembleia da República.

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Acolhimento em Portugal da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O presidente da Assembleia da República, admitiu esta manhã na abertura da conferência sobre violência no desporto, promovida pela comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, presidida pela deputada socialista Edite Estrela, que sem pôr em causa a autonomia do futebol, o poder político não deve deixar de “ir acompanhando com atenção o desporto” e o futebol em particular, como referiu, “em todas as suas dimensões”, sustentando que este acompanhamento deve ser feito, “se necessário”, através do Parlamento ou do Governo.
A este propósito, Eduardo Ferro Rodrigues lembrou que cabe, tanto ao Governo como ao Parlamento, estabelecer as regras legais para evitar que a violência, a corrupção, a intimidação, a fraude, a calúnia, as violações do segredo de justiça “após denúncias anónimas”, continuem a avançar e a assumir dimensões que todos um dia podemos lamentar, sustentando, contudo, que a autonomia do futebol não justifica que a modalidade deixe de ser “mais escrutinável”.
Para Ferro Rodrigues nada seria mais prejudicial ao futebol, como em relação a qualquer outra modalidade desportiva, do que, numa altura em que os meios tecnológicos estão a ser introduzidos em nome da “verdade dos resultados”, permanecessem “insinuações sem reposta” a questões como a “lavagem de dinheiro, a corrupção de intervenientes fundamentais” na modalidade, quer ainda, como acrescentou, que nada se fizesse para acabar com a “cultura do ódio e da violência organizada”.
Lembrando aos participantes nesta conferência que, como presidente da Assembleia da República, não pode assumir o papel de legislador, Ferro Rodrigues assinalou que vê “com bons olhos”, sem pôr em causa a autonomia dos poderes próprios, que o futebol seja “mais escrutinável”, uma vez que se trata de uma área, como referiu, que tem um “impacto social, cultural e ético”, que “diz respeito à sociedade no seu todo”.
Dirigindo-se aos líderes dos principais clubes e aos vários responsáveis máximos dos organismos ligados ao futebol, presentes na sala, Ferro Rodrigues incitou-os a desempenharem um papel determinante na pacificação do desporto e do futebol em particular, lembrando-lhes as suas responsabilidades “enquanto dirigentes desportivos”.
Por isso, acrescentou ainda Eduardo Ferro Rodrigues, não podem esquecer nunca e em nenhum momento, que representam “institucionalmente milhares de sócios”, nalguns casos, “milhões de adeptos” e nos casos das sociedades anónimas, os acionistas, mas acima de tudo, como referiu ainda, representam “uma história e uma comunidade de pessoas unidas por um ideal”.

Baixar a crispação
O presidente da Assembleia da República teve ainda ocasião para apelar aos órgãos da comunicação social, lembrando-lhes a enorme influência que têm junto da população e o contributo decisivo que podem dar para “baixar a crispação” que se vive no futebol português, lamentando que ela tenha atingido níveis demasiado elevados no “espaço público desportivo e futebolístico”.
Arriscando uma tese sobre uma eventual causa para a atual crispação no mundo do futebol, Ferro Rodrigues defendeu que talvez tal “se deva ao facto de o debate político-partidário ser hoje muito menor”, passando a discussão em volta do futebol, como assinalou, a servir de pretexto para que algumas personalidades tenham acesso a mais audiências. Um caminho que até pode ser uma “forma barata” de se passar a ter protagonismo que antes não se tinha, como referiu, mas que representa uma “maneira perigosa e lamentável”, de se estar em sociedade, num mundo, como lembrou, em que o “populismo acéfalo substitui a discussão racional, com consequências muito graves se este comportamento não for denunciado e alterado”.