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Pensar para uma década

Pensar para uma década

Quando em novembro o PS apresentou a sua Agenda para Década, fui esmagada por perguntas de jornais que só queriam saber se tínhamos uma solução para a dívida. Ninguém fazia perguntas sobre as propostas apresentadas, porque é que eram essas e não outras. Se custavam dinheiro a implementar. Como íamos garantir a continuidade das políticas ao longo de 10 anos para que os objetivos traçados fossem mesmo atingidos.

Opinião de:

Pensar para uma década

Impressionada pela insistência, saí nesse dia de casa e fui perguntando onde parei o que preocupava cada uma das pessoas. Nada de propriamente científico, aviso já. Nesta crise qual é a sua principal preocupação? “Que o miúdo daquela minha filha que está desempregada, lembra-se que lhe contei, possa um dia ser doutor”. “Que a minha pensão seja previsível, tenho medo do que vou receber no mês seguinte, dizem para aí tanta coisa”. “Que o meu jornal sobreviva com alguma qualidade” (isso mesmo até liguei a uma amiga do métier!). “Que não tenha de despedir mais uma menina e possa até fazer obras, o meu salão está mesmo a precisar, como me disse outro dia”. “Que os meus filhos possam ir para uma escola pública, mas do século XXI”. “Que tenha dinheiro para investigar e continuar nas redes internacionais onde me custou tanto a entrar”. Já viram que entrei na Faculdade. Concluí a pensar cá para mim que gostava de continuar bem de saúde, o que depende da qualidade do hospital que avisto da janela da sala de aulas do terceiro andar. 

Nem por uma vez alguém me perguntou pela tal solução para pagar a dívida. Provavelmente é preciso pagá-la para que tudo o resto possa acontecer, mas essa preocupação não é a que assalta muitos portugueses. São as outras, as que exigem uma estratégia, a estabilidade de políticas, a escolha de prioridades, o rigor e competência na sua execução. Que exigem investir na Ciência, na Cultura e manter viva a solidariedade. Que exigem modernizar o Estado e as empresas com determinação pública e privada. Porque sem esse investimento não pagaremos as dívidas do presente, nem podemos ter esperança em qualquer futuro. 

Confesso que senti algum alívio depois de semanas embrenhada com a Agenda. Afinal, o esforço de tanta gente não tinha sido desperdiçado. Mesmo que faltassem tempo e condições para sabermos se os objetivos da Agenda para a Década poderiam ser atingidos, eles tinham a ver com as aspirações de cidadãs e cidadãos que de um modo ou de outro, todos os dias, contribuem para um país melhor.