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OTIMISMO E PESSIMISMO

OTIMISMO E PESSIMISMO

Marcelo deu, na semana passada, uma aula, no Colégio Moderno, sobre Mário Soares, e respondendo a perguntas dos alunos, versando mais a atualidade, aproveitou para dizer que quando fala na existência de um problema ao primeiro-ministro, tem logo a negação, por parte de António Costa, que esse problema existe. O roxo é roxo, não me diga que é violeta-rosa ou rosa, a cor do PS, disse Marcelo referindo-se a Costa.

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Estas revelações, além de serem eticamente reprováveis, porque o teor das conversas entre o Presidente da Republica e o primeiro-ministro não deveria passar dos dois, retomam a crítica de otimismo irritante já feita, anteriormente, pelo primeiro ao segundo. A enumeração frequente de problemas, por parte de Marcelo, pode equiparar-se, de certa forma, ao desejo da nossa oposição de que as coisas corram mal, o que levou Costa a dizer que os sucessos do país irritam a oposição. Temos, assim, que o otimismo do primeiro-ministro irrita Marcelo e as coisas boas a oposição. 

Será que apreciam o pessimismo e os fracassos? Serão masoquistas? O Presidente diz que é um otimista realista, como que a insinuar que Costa não é. Mas o otimismo deste baseia-se em factos e não em suposições, mais concretamente nos bons resultados que o país tem obtido e que são reconhecidos internacionalmente. Maior realismo é difícil! Se os ventos sopram de feição, não se pode nem deve dizer que não. A realidade nunca se ilude. A expressão otimismo irritante, usada por Marcelo, é, salvo o devido respeito, um pontapé na gramática, nem parece oriunda de um Presidente da República. O otimismo não irrita, tem antes o efeito contrário, ou seja, tranquiliza. O pessimismo é que pode dar irritabilidade. Os termos foram(mal) invertidos. O Presidente disse, também, no Colégio Moderno, que para exercer a sua autoridade sobre o primeiro-ministro, invoca 50 anos de análise, por parte dele, da politica portuguesa.

O meio século como analista, a que Marcelo recorre, embora não se o deva fazer, disse, também não é totalmente verdade. Se fosse mais rigoroso, diria 44 anos, porque começou em 1973 no Expresso. O certo é que, com mea culpa, puxa dos galões para fazer valer os seus pontos de vista, o que é um procedimento condenável e ainda mais, quando o interlocutor é o primeiro-ministro. Os políticos dividem-se em fazedores e palradores. Como já tive ocasião de dizer, Costa pertence ao primeiro grupo, Marcelo ao segundo. A ação vale sempre mais do que a palavra. A própria História regista com maior agrado os fazedores. Os que fazem e deixam obra. Marcelo, um palrador nato, pelo contrário, adora dar publicidade às suas intervenções, como esta no Colégio Moderno, não conseguindo passar sem protagonismo mediático, a maioria das vezes excessivo e inadequado à função que desempenha. Convém recordar-lhe um ditado norte-americano: se vives pela imprensa, morres pela imprensa!