home

Os meandros de Bruxelas

Os meandros de Bruxelas

Na semana passada, o colégio da Comissão Europeia “constatou” os défices nas contas de Portugal em 2015 e de Espanha 2016 (neste caso no próprio inexistente orçamento de inexistente governo). O Eurogrupo (os ministros das finanças dos países do Euro) ontem, dia 11, “tomou conhecimento”. Hoje, dia 12 o ECOFIN, ou seja os ministros das finanças dos 28, irá certamente “reconhecer e confirmar o parecer da Comissão”, pedindo a cada um dos dois Países para apresentarem as medidas que possam evitar a repetição do défice excessivo. Estas terão 20 dias para o fazer. Depois, a Comissão (Colégio) reúne de novo, aprecia os acontecimentos e determina o procedimento sancionatório que pode ir de zero a 0,2% do PIB do país (cerca de 350 milhões de euros, no nosso caso).

Opinião de:

Governo quer programa alargado de empregabilidade para a deficiência

Poderia encontrar razões justificativas para não aplicar sanções; bastaria pensar que o prolongamento do défice se deveu por inteiro à rudeza e pouco acerto das medidas que ela própria recomendou e elogiou. Não o vai fazer, não teria coragem para, no seu pensamento em caracol, aumentar o “risco moral”, ou seja o risco de desmobilização dos incumpridores pelo indulto concedido. Segundo os jornalistas acreditados e em quem se possa acreditar, é provável que a sanção seja multa de zero % do PIB. Simbólica, aparentemente inerme, mas profundamente ofensiva: mancha o registo criminal a um infrator que já não está ao leme, afeta a reputação do país, deteriora a cotação da dívida nos mercados e sobretudo confere a Bruxelas e aos zelotes argumentos para nos olharem de alto, atrasarem ou mesmo suspenderem fundos comunitários.

Que ganha Bruxelas com este eventual ato punitivo? Mais desconfiança na União, acentua-se o fosso entre clivagens ideológicas, reduz-se a capacidade produtiva e o emprego nos países sancionados, diminui neles as importações dos mais poderosos, agrava-se a perda de confiança no sistema bancário, segurador e de fundos de pensões europeus (atualmente em perda acumulada devido ao dinheiro barato do BCE), enfraquece a Europa a manquejar pelo Brexit, oferece a Putin um continente rico, gordo, pouco ágil e infeliz e permite a continuação da venda barata de ativos europeus a Chineses e Indianos. Fecha a porta aos cidadãos, mas escancara-a aos capitais. Divide-se na defesa pela saída do Reino Unido e só não ajoelha perante o próximo diktat de Putin, por o petróleo e o gaz estarem baratos. Numa altura em que tantas incertezas e nuvens se acumulam, nada melhor que maltratar duas alas da sua tropa. Dificilmente seria pior, se fosse premeditado.

A prosseguir esta linha, quem se admira que ganhem voz e corpo não apenas os populismos ignaros e incultos, mas também os que sem discussão à Europa aderiram e sem entusiasmo se acolheram ao suposto guarda-chuva cambial e anti-inflacionário do Euro. Dir-me-ão que o desbaste nas alas laterais, à direita e à esquerda, não afeta o pensamento central dominante. Veremos.