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Ordem unida, a três

Ordem unida, a três

Na penúltima semana de Julho a política acelerou. Apresentámos os nossos candidatos, vencendo obstáculos do aparelhismo e do divisionismo e temos listas de boa qualidade. Costa teve liberdade para escolher excelentes cabeças de lista que farão a diferença. A diferença assenta na confiança para garantir aos eleitores uma mudança de poder fundamentada, coerente e segura.

Opinião de:

Ordem unida, a três

Do lado da coligação tivemos três discursos: o do Presidente, cada vez mais descaradamente a pender na balança partidária para a direita, o de Portas e o de Passos Coelho. O Presidente limitou-se a anunciar a data das legislativas. Quanto ao resto foi, ou irrelevante ou nocivo. Irrelevante por saber que não pode deixar de nomear o primeiro-ministro tendo em conta os resultados eleitorais, o que significa que não se pode opor a um governo minoritário. Mesmo assim, insiste em supostas lições de moral aos partidos. Nocivo, por tentar coagir os Portugueses, ou a votarem em coligações já formadas, ou a construírem coligações impossíveis, o que significa uma mensagem subliminar a dourar a única coligação existente. Se nos lembrarmos da defesa acrisolada que fez de Passos no desabafo de Juncker, a independência presidencial está a esvair-se rapidamente. Dela pouco restará em 4 de outubro.

Portas preferiu a habitual escolha de títulos, sound-bites. O discurso centrou-se em tentar contrabalançar a rudeza social do polícia-mau Passos, fazendo agora de polícia-bom. Além da habitual perícia do antigo fazedor de títulos de primeira-página, pouco ficaram a saber os Portugueses sobre como vai ser o programa da coligação. Das reformas do Estado já se esqueceu. Portas entreteve-se a falar do governo que terminou em 2011, amnésico do que se passou entre 2011 e 2015.

Passos surpreendeu pela defensiva. Claro que o modelo do programa, townhall meeting, não o favorecia, sendo confrontado com alguns fragmentos e testemunhos da dura realidade de que é o principal responsável. Mas tendo antes declarado que iria decretar “guerra sem quartel às desigualdades” esperava-se um discurso social, uma visão do progresso económico futuro, alguma contrição por erros passados. Nada disso. Apenas nos disse de raspão que tudo esteve muito difícil em quatro anos, mas que agora está tudo bem. Coibiu-se, é certo, de repetir as aleivosias com que nos tem brindado, quando declarou que a pobreza regrediu, o emprego aumentou, o investimento social foi maior que nunca, ou que a ciência estava agora a um passo do sucesso empresarial e exportador. Felizmente evitou números para não facultar mais combustível ao fogo em que tem sido queimado. Na sua habitual confusão entre teimosia e consistência, recusou baixar o IVA da restauração, mas prometeu reduzir a sobretaxa do IRS e até mexer nos escalões. Promessas para futuro, fáceis de reverter por alegáveis alterações supervenientes. Os Portugueses ainda indecisos esperariam algo de positivo e sobretudo linhas de orientação para o desenvolvimento da economia e para a tal guerra às desigualdades. Ainda não foi desta.

Confesso-me surpreendido pela pequenez da substância e pelo tom excessivamente defensivo. Algum dos seus “spin doctors” o deve ter aconselhado a ser humilde. É bem certo que pelo menos uma vez usou a palavra humildade para caraterizar a sua postura. Mas o que prevaleceu foi a lógica do “mais do mesmo”. Tudo será como dantes. Para isso, não precisaremos cá dele. Está dispensado.