home

O ELOGIO DA GERINGONÇA

O ELOGIO DA GERINGONÇA

A Geringonça merece um elogio. Melhor. Merece muitos elogios pelo que significa de inédito no quadro político-parlamentar em que vivemos, resultado das eleições legislativas de 4 de outubro de 2015. E merece o maior elogio porque, sendo à partida uma estrutura improvável, constata-se agora que, para espanto de muitos, afinal até funciona. E por isso olhamos para ela cada vez mais embevecidos. A Geringonça é como a coca-cola do Fernando Pessoa: primeiro estranha-se e depois entranha-se.

Opinião de:

Pontes para novas liderança

Pessoalmente, tenho o maior apreço pela Geringonça e, sobretudo, pelo seu conceito aplicado à política. Pela primeira vez na nossa história todos os partidos da esquerda souberam entender-se e estão a gerar políticas importantes para a vida dos portugueses. 

No início, os partidos de direita queriam cunhá-la como uma máquina impossível à beira do colapso, mas aos poucos foram percebendo que afinal resistia. Pode até abanar, o que é natural, mas a verdade é que se aguenta e não cai….. para grande infelicidade e desconforto dos seus adversários, sobretudo o PSD e o CDS-PP, que sempre tiveram a sobranceria de achar que havia partidos democraticamente eleitos que não tinham vocação para governar ou apoiar a governação.

A Gerigonça é uma revolução no panorama político-partidário português que transformou a relação dos partidos tanto à esquerda como à direita. Agora a esquerda também já é pragmática e consegue produzir estabilidade para o país, para as famílias e para as empresas. Felizmente que todos souberam abdicar da arrogância ideológica de acharem que só as ideias de cada um é que têm valor.

A esquerda também já tem, finalmente, a sabedoria do poder partilhado para beneficiar o bem comum. E não faltam exemplos de situações semelhantes por essa Europa fora. Situações legítimas, sólidas e democráticas. E sem dramas. É a aritmética parlamentar e a democracia a funcionar.

É na partilha do poder que a democracia fica mais robusta. E é nas maiorias parlamentares que se consegue estabilidade na governação. Nem percebo como pode haver quem pense que o melhor era entregar numa bandeja o poder à direita para nos continuarem a fazer a vida negra. É difícil compreender a lógica dos raciocínios que acham que seria melhor o PS e toda a esquerda estarem na oposição em vez de terem a oportunidade para aplicar a sua visão e as suas propostas para um país melhor e mais justo. E será que o património ideológico do PS e a sua identidade política estão afetados? Não se vê onde…… E não será o purismo ideológico bem mais perigoso?

A Geringonça é a máquina que devolveu a esperança aos portugueses, que inverteu o ciclo de empobrecimento, que voltou a dar centralidade à ciência e à cultura, que puxa pelo território e pelo mar, que faz tudo pelo emprego e pela economia, que devolveu a dignidade à política externa e às Comunidades Portuguesas espalhadas pelo Mundo, que parou com o indecoroso apelo à emigração.

A beleza da Geringonça está na capacidade para convergir apesar das diferenças de cada um dos partidos que lhe dá vida, sem pôr em causa a sua identidade doutrinária. A Europa, como disse Martin Schulz no Congresso do PS, está de olho em nós. A Geringonça é uma esperança para a esquerda europeia e para uma Europa melhor.

E é justo sublinhar que esta revolução tem um mentor. E esse mentor é o Secretário-Geral do PS, António Costa, que teve visão quando o horizonte estava fechado, que desfez o dogma do arco da governação e da incapacidade de entendimento à esquerda e ainda por cima com o bónus de levar à cisão de uma direita que estava em acelerado processo de fusão.

Mas a Geringonça para durar precisa de ser mantida em diálogo permanente, precisa da humildade de todos os parceiros e de capacidade para resistir às investidas maldosas dos seus adversários. Precisa de bom senso. Mas há algo que, para já, parece evidente: A Geringonça faz bem à democracia e faz bem a Portugal!