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O desaparecimento do emprego

O desaparecimento do emprego

O emprego como o conhecemos desapareceu. Talvez para sempre. Seguramente por muitos anos, décadas.

Opinião de:

O desaparecimento do emprego

Os céticos têm um argumento: no passado os saltos tecnológicos destruíram empregos nuns sectores mas criaram-no nas novas indústrias e serviços que originaram.

É verdade. Sucede que nenhuma verdade é imutável. E a conjuntura atual é radicalmente diferente de qualquer das anteriores. A revolução industrial criou máquinas especializadas para cada indústria. Uma debulhadora não pode ser usada para virar hambúrgueres. Mas o software é muito mais abrangente, aplicando-se a qualquer propósito. O trabalhador não tem onde se dirigir: as novas funções são igualmente tratadas pelas mesmas tecnologias de informação que o substituíram nas antigas.

A consultora Gartner prevê que 1 em cada 3 empregos vá ser entregue a software, robôs e maquinaria inteligente até 2025. Investigadores da Universidade de Oxford chegaram à conclusão de que 47% dos empregos nos Estados Unidos serão automatizados nas próximas 2 décadas.

Algumas pessoas serão necessárias para criar uma parte da maquinaria e software. E sem dúvida que outras serão precisas para servir os cafés às primeiras e tomar conta dos seus filhos — embora menos do que pensamos, sendo os cuidados a crianças e idosos uma das áreas onde mais se investiu em robôs capazes de demonstrar empatia humana. Mas até perder de vista não se vislumbram nem imaginam novas áreas que necessitem dos biliões de homens-hora que vão ficar vagos nas próximas décadas. Regressar à agricultura e à pesca não é solução coletiva, ainda que possa ser opção para indivíduos, incluindo ex-Presidentes da República.

Admitindo que o emprego voltará um dia aos países da OCDE, esse dia está para além de 2035. Em Portugal as duas próximas legislaturas irão até 2023. O mais certo é a tendência de fundo — a destruição do emprego como o conhecemos — sobrepor-se aos fogachos de otimismo económico que levarão algumas empresas a contratar uns milhares de funcionários a prazo e com baixos salários subsidiados pelo Estado.

Concluindo. As políticas sociais e de emprego devem procurar minorar os efeitos da destruição em curso, mas o essencial da energia governativa tem de se concentrar no Grande Desafio das sociedades modernas: como enquadrar a economia da partilha — e com que mecanismos de redistribuição que possam vir a substituir os impostos e prestações sociais. Perfilam-se dois caminhos principais. Assunto para uma próxima crónica.