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O ASSOMBROSO E BRILHANTE DONALD TRUMP

O ASSOMBROSO E BRILHANTE DONALD TRUMP

Ao contrário do que Donald Trump martelou no seu pavoroso discurso de investidura, “fazer de novo a América grande”, a América da era Trump será a mais pequenina de todas, porque mais reacionária, mais fechada e mesmo mais perigosa, tanto interna como externamente.

Opinião de:

O ASSOMBROSO E BRILHANTE DONALD TRUMP

A América nunca será grande se se fechar ao mundo e, sobretudo, se enveredar pelo caminho de pôr tudo em causa, das Nações Unidas à NATO, do comércio internacional às relações bilaterais. Infelizmente, o mundo precisa de uma América que possa estar presente onde os europeus não têm capacidade ou condições de o fazer. Um mundo em roda livre, cheio de pequenos e grandes ditadores ansiosos por alargar o seu poder e as suas fronteiras, pode facilmente gerar conflitos com elevado potencial de alastramento.

Desde logo, a América nunca será grande se não for um baluarte dos valores da democracia (mesmo com a pena de morte em alguns Estados e as escandalosas ingerências na vida de muitas nações). E Donald Trump não fez quaisquer referências à democracia no seu discurso, o que não apenas é preocupante, mas também revelador do seu carácter. Alguém pensará, porventura, que Trump é um árduo defensor da democracia e dos direitos humanos? Não parece, vindo de quem não tem hesitado em fazer declarações que roçam o racismo e a xenofobia e de quem escolheu para o seu gabinete e para a sua administração personalidades que não escondem a sua proximidade às ideias da supremacia branca e com crenças pouco ecuménicas.

Custa a crer que Trump seja um verdadeiro democrata, porque se assim fosse nunca teria ameaçado rejeitar o resultado das eleições se não ganhasse. Colocou, assim, a América ao nível daquelas nações caóticas em algumas partes do mundo que realizam eleições para logo a seguir fazerem guerras civis.

De resto, não pode ser um verdadeiro democrata quem admira líder autoritários como Vladimir Putin, que tem destruído os seus opositores e silenciado as opiniões públicas e os meios de comunicação social.

A democracia faz-se no respeito pelos outros, pelas minorias, por aqueles que são diferentes em virtude da crença religiosa, da orientação sexual, da etnia ou da raça, pelos mais frágeis da sociedade. Faz-se no respeito pelas instituições democráticas dentro e fora do seu país, que é o que tanto interna como externamente garante os equilíbrios de poder e a defesa dos direitos dos cidadãos e das nações.

Mas se a ausência de referenciais democráticos é sintomática tanto no percurso de vida, na campanha e agora no discurso de investidura, também ao contrário do que propagandeia não há patriotismo, por mais que apele ao orgulho de ser americano e que diga que a América voltará a ser grande. Há, isso sim, doses maciças de nacionalismo e de populismo.

Dizer que “O nosso modelo de vida brilhará como um exemplo para os outros seguirem” é mais próprio de Kim Jong Un do que propriamente de um Presidente dos Estados Unidos da América. Se fosse o líder norte-coreano a dizê-lo, daria para esboçar um sorriso de condescendência, mas saído da boca do Presidente Trump causa arrepios.

De resto, haverá poucos países no mundo com um povo tão patriota como o americano. O que não é de estranhar, por se tratar da primeira potência económica e militar a nível mundial, capaz de exportar tudo e mais alguma coisa, para todo o planeta, de valores éticos a máquinas de guerra, de filmes a refrigerantes, da estabilidade política a ingerências em Estados soberanos.

Exacerbar o patriotismo vindo de um narcisista radical é perigoso. O seu ar de mauzão de olhos franzidos como se estivesse sempre a magicar qualquer coisa bombástica é assustador, próprio daqueles líderes com grande aptidão para conduzir os seus países em direção ao abismo e, na queda, levar muitos outros atrás, como a História tem demonstrado.

Além disso, do seu discurso redondo, percebeu-se algo de inquietante, que esconde intenções que só mais tarde serão desvendadas com choque e pavor. É já o caso de ter revogado à bruta como primeira medida o ObamaCare, o que não é apenas deselegante, mas também provocador e grosseiro, não apenas para o anterior Presidente, como para todos os mais de 20 milhões de americanos que sofrerão as agruras de não poderem ir a um médico ou a um hospital, o que certamente não deixará de provocar tempestades internas.

Mas apesar de quase não se referir à dimensão externa da ação dos Estados Unidos, já deixou uma bomba. Disse que vai erradicar o terrorismo da face da terra, assim, sem mais, apenas com um estalar de dedos, como se esse problema se resolvesse do dia para a noite. A menos que o presidente pense que se lançar uma bomba atómica na Síria e no Iraque, como vagamente poderá ter a ideia que os Estados Unidos já fizeram no Japão há umas décadas atrás, o problema ficará resolvido….