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O ACORDO ORTOGRÁFICO E O QUE FAZ FALTA

O ACORDO ORTOGRÁFICO E O QUE FAZ FALTA

A Língua Portuguesa e a sua ortografia têm mudado profundamente e não é necessário recuarmos às cantigas de amigo medievais para constatar essas alterações.

Opinião de:

A igualdade de género no contexto do debate sobre o futuro da UE

A simplificação ortográfica teve início por iniciativa unilateral de Portugal durante a primeira República. Mais tarde o Brasil iniciou o seu processo de simplificação ortográfica. Estes dois movimentos tornaram necessária e imperiosa a celebração de acordos ortográficos entre as nações lusófonas, que culminou no Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).

Temos de reconhecer que é essencial assegurar a maior unidade possível da Língua Portuguesa, em que se traduz o AO90, se queremos que tenha futuro a nível internacional. 

A tentativa de reversão à norma anterior constante do AO45, volvidos cerca de 30 anos, ou a recente tentativa de “aperfeiçoamento” unilateral e desajeitada, à revelia do acordo internacional, promovida pelo Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, deverão ser recusadas liminarmente. 

Esta querela não tem em 2017 qualquer sentido ou oportunidade.

Assunto encerrado, portanto, como bem diz Vital Moreira (https://causa-nossa.blogspot.pt/2017/02/assunto-encerrado.html). É que até quem não gosta do AO90 já acha demais tanto barulho e considera que, quem quer devolver algum valor à língua, melhor fará em focar-se e esforçar-se por ensiná-la como hoje ela é (http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/joana-petiz/interior/no-melhor-portugues-possivel-5655803.html).

Mas não só por extemporaneidade se deve dar o assunto por encerrado, deslocando para os órgãos próprios previstos no tratado que instituiu o AO90, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), os “aperfeiçoamentos ou correções” que venham a ser necessárias para uma ainda maior uniformização da Língua Portuguesa. O assunto deve ser encerrado porque o AO90 é uma peça essencial e imprescindível na planificação e execução de uma política internacional de difusão e afirmação da Língua Portuguesa e do mundo lusófono.

São centenas de milhões os falantes de português em vários continentes, maioritariamente no hemisfério Sul, onde é mesmo a língua mais falada, sendo da responsabilidade de Portugal que, na Europa, não cresça ao mesmo ritmo que no resto do mundo e, nas instâncias internacionais, não faça a sua parte e dinamize os restantes países lusófonos para que tenha o estatuto e a importância que lhe é devida.

Na falta de regras ortográficas comuns iríamos por certo assistir, num futuro próximo, a um processo de multiplicação de ortografias, que ameaçariam a unidade da Língua Portuguesa.

Estando o assunto encerrado, devemo-nos ater, agora, ao que faz ainda falta para assegurar o futuro da Língua Portuguesa.

O que faz falta é, nomeadamente: o funcionamento eficaz do IILP, com os recursos humanos e financeiros necessários; que o português seja utilizado efetivamente em todas as instituições da União Europeia; que venha a ser uma das línguas oficiais das Nações Unidas; que se avance rapidamente na elaboração de um vocabulário técnico-científico comum do português; que seja utilizado em diplomas jurídicos internacionais, como, por exemplo, no direito das patentes; o desenvolvimento da tradução automática de e para português; o ensino a distância em português e do português como língua estrangeira; a colaboração efetiva entre as Academias de Língua Portuguesa dos países lusófonos. Em suma, a afirmação internacional da Língua Portuguesa como língua de cultura e de ciência.