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NA DATA DOS 143 ANOS DE SOCIALISMO EM PORTUGAL

NA DATA DOS 143 ANOS DE SOCIALISMO EM PORTUGAL

Os socialistas portugueses têm razões para se sentirem orgulhosos de pertencerem à sua família política, cuja primeira estrutura partidária foi criada no terceiro quartel do século XIX. Foi dos primeiros partidos socialistas a ser fundado na Europa e “quase cem anos mais tarde (Abril 1973)”, renasce depois de longos e difíceis combates sob a liderança de Mário Soares, dirigente carismático e de enorme envergadura política e combatividade. Estamos a recordar leituras do livro <em>O Socialismo e o PS em Portugal</em>, de que é autor e coordenador Fernando Pereira Marques, professor e investigador da Universidade Nova de Lisboa.

Opinião de:

Celebrar Mário Soares – O legado

Logo na Introdução do livro o investigador Pereira Marques recorda-nos que “em Janeiro de 1875”, completam-se agora cento e quarenta e três anos, foi fundado o Partido Socialista Português. Prosseguindo a análise do passado, aborda, numa síntese histórica, os eventos relevantes deste período, até por volta dos anos 60 do século XX. Sob a época contemporânea, mencionando várias situações, refere a fundação do PS em 1973, a complexa conjuntura pós 25 de Abril, foca, entre outras questões, “o contributo fundamental dado por Mário Soares e governos socialistas ao projecto de integração europeia.” E sob a designação “O Futuro” faz diversas reflexões, alude às conquistas socias alcançadas desde o século XIX que há que manter ou recuperar, tece considerações sobre os problemas sociais que se agudizam neste período “ultraliberal de desenvolvimento capitalista”.

Seguem-se mais dois ensaios do mesmo investigador que trata das origens do socialismo em Portugal. No primeiro, a figura central é o luso-suíço José Fontana, à volta de quem se descrevem os eventos que criaram condições para a fundação do Partido. O segundo ensaio, sob a epígrafe “O I Congresso do Partido Socialista (1877)”, versa sobre a génese do movimento socialista, eventos correlacionados com a citação de figuras importantes, de que destacamos Azedo Gneco, José Fontana e Antero de Quental, e termina com a descrição do Congresso.

As breves notas acima já nos dão uma ideia da importância deste trabalho histórico e de reflexão para quem se interessa por estudar estes temas, numa área em que a bibliografia é tão escassa. Vejamos, em síntese, os restantes sete ensaios que preenchem as 326 páginas do livro. 

Começando pelos historiadores, com narrativas de cariz histórico: Joaquim Palminha Silva, o seu trabalho versa sobre a evolução do P S desde a implantação da I República ao 25 de Abril; Nuno Miguel Jesus, aborda o período da resistência à ditadura, de 1942 até ao fim da década, referindo acções envolvendo a União Socialista; António Reis, fundador do PS, com larga experiência política, faz um amplo estudo abrangendo a pós fundação do PS, o 25 de Abril, o 1.º de Maio 1975 e o 25 de Novembro, temas programáticos e relações PS, PCP e MFA.

Numa abordagem na óptica da política internacional, o investigador António Muñoz Sánchez, num extenso ensaio, relata o ambiente político das relações da Acção Socialista Portuguesa com a Fundação Friedrich Ebert e o SPD, e aborda a realpolitik de Willy Brandt com o regime de Marcelo Caetano.

Na perspectiva do Direito Constitucional o Prof. Paulo Ferreira da Cunha, no seu ensaio, analisa a conduta do PS na feitura da Constituição, para concluir que o Partido foi “fiel a si próprio e a grandes ideais”.

Por fim, a análise dos textos programáticos é feita pela Prof.ª em Ciência Política e Relações Internacionais Ângela Montalvão Machado; e a análise da evolução programática, de organização, recrutamento e renovação da classe política dirigente do PS por Miguel Coelho, doutorado em Ciência Política.

Como se constata, trata-se de um conjunto de ensaios que abrange várias temáticas e em diferentes períodos do Partido Socialista e, por isso, ainda de maior interesse. Esta obra, O Socialismo e o PS em Portugal, editada recentemente (Âncora Editora), vem contribuir para preencher a grande lacuna de livros sobre o socialismo, designadamente na parte histórica. Iniciativa bem-vinda, em data que se evoca, no dia 10 de Janeiro, o velho Partido Socialista Português.